O Viva Maria destaca que, no próximo domingo (3/8), começa em Brasília a 4ª Marcha das Mulheres Indígenas. Aproveitando a temática, o programa convida a escritora Sony Ferseck, indígena do povo Makuxi, professora, poeta e cofundadora da Wei Editora, primeira editora independente de Roraima voltada para a publicação de autores indígenas e obras bilínguas. Ela é também é uma das grandes convidadas pelo Sesc para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece em Paraty.
Soni Ferzek fala sobre a herança indígena do povo brasileiro e a violência que afeta os povos originários, sobretudo as mulheres.
“Uma pesquisa há pouco tempo comprovou justamente que, no DNA do brasileiro, 15% vem justamente da matriz da mãe indígena, que ainda hoje é renegada, que é violentada. Infelizmente Roraima, que é o estado de onde eu venho, lidera as estatísticas de violência tanto contra mulheres como contra crianças, que vem aumentando num nível absurdo já faz um bom tempo. Para você ver, o Mapa da Violência 2015 já trazia Roraima com um aumento de 500% entre 2005 e 2015 dessa violência. Uma escalada horrível.”
Ela também fala também sobre seu livro “Weiyamî: mulheres que fazem sol”, que foi semifinalista do 65º Prêmio Jabuti e é a obra que ela está apresentando na Flip 2025.
“Eu queria, na minha obra, homenagear essas mulheres e principalmente dizer que elas tem protagonismo tanto no movimento indígena quanto dentro de casa. Porque são essas mulheres que alimentam literalmente a luta pelos direitos indígenas. Tem vários relatos. Inclusive o professor Bessa Freire, através do relato de um frei, nos conta que as mulheres indígenas eram as últimas a largar de mão sua língua. Elas resistiam até o último momento, até sofrendo violência física, palmatórias. E elas mantinham a língua viva, elas falavam a língua. E é graças a elas, por exemplo, hoje, que gente ainda tem cerca de 250 línguas no Brasil. Pois é. É a minha forma de homenagear elas que fazem sol, apesar de tanta violência e tanto obscurantismo.”
A autora indígena também fala sobre a Wei Editora, que ela ajudou a fundar.
“A gente acredita que essas palavras indígenas, os livros, são sóis. Ajudar a gente a fazer sós nesses dias de obscurantismo. Trazer, justamente em formato de livro essas vozes e essas línguas escritas. Para que outras pessoas, em especial as meninas indígenas, as mulheres se vejam como autoras, como escritoras, nas suas línguas, nos seus territórios. Então, a proposta da Wei Editora é justamente fazer circular essas palavras. Potencializar para muito além dos territórios originários.”