Tesla (TSLA34), Nvidia (NVDC34) e Amazon (AMZO34) estão entre os BDRs mais negociados na Bolsa no primeiro semestre, segundo a B3 e, portanto, entre as companhias mais conhecidas pelos brasileiros. No entanto, quando Yuhzô Breyer, gestor de renda variável da Trígono Capital, escolheu as ações internacionais para compor a alocação do fundo Trígono Dynamic no exterior, nenhuma dessas empresas estava no radar.
“Acredito muito no upside das small caps, que são menos vistas e cobertas; se já tenho esse estilo (de focar em small caps) no Brasil, por que não fazer isto no exterior?”, argumenta Breyer. Quando o fundo finalmente conseguiu abrir um veículo para investimento offshore, em agosto, 10% do patrimônio de R$ 24 milhões do fundo foi alocado em empresas de menor expressão no mercado internacional.
Por regra, o fundo pode investir até 20% de seu patrimônio lá fora, mas, atualmente, os investimentos no exterior representam 10% da carteira do Dynamic. “É uma alocação estrutural, nunca vou ter menos de 5%, mas aumentar acima de 10% vai depender da conjuntura”, diz Breyer.
Seguindo a filosofia da gestora focada em small caps – o Dynamic tem posição em empresas como Blau Farmacêutica (BLAU3) e OceanPact (OPCT3) –, o gestor foi atrás de empresas com grande potencial de valorização, mas que, ao mesmo tempo, também oferecem riscos relevantes para a carteira. Confira as teses selecionadas pelo gestor:
Eve
Pertencente à Embraer (EMBR3), a empresa vem projetando veículos elétricos aéreos para uso em meios urbanos e prepara o lançamento do seu eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de decolagem e pouso vertical em 2027). “É um projeto que envolve muitos riscos, mas levo muita fé; conversei bastante com os executivos e passaram muita tranquilidade no projeto”, relata o gestor da TrÍgono.
Breyer diz enxergar pontos positivos e negativos na tese. Do lado negativo está a autonomia menor do eVTOL na comparação com concorrentes. O veículo deve ser capaz de percorrer 150 quilômetros, enquanto outros projetos preveem autonomia de até 250 quilômetros.
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Por outro lado, o gestor avalia que o projeto da Eve é o mais econômico e tem o maior nível de confiabilidade mecânica. Além disso, a companhia já vem desenvolvendo um veículo autônomo, ainda que, no início, haja a necessidade de um piloto para aumentar a adesão ao produto. “No futuro, veremos muitos eVTOLs voando por aí, o mercado endereçável é gigantesco, mas é preciso correr o risco de investir antes de gerar receita porque o nível de receita será outro quando começarem a fabricar e vender”.
FinVolution
Outra tese internacional queridinha na Trígono é da FinVolutuon, uma fintech que usa dados para democratizar o acesso ao crédito na China e em outros países asiáticos. “O consumidor baixa um aplicativo, faz um cadastro e US$ 5 mil são liberados em crédito”. Yuhzô Breyer explica que a empresa usa dados e inteligência artificial para determinar as chances de pagamento da dívida e precificação dos juros.
O principal risco está na possibilidade de regulação pelo governo chinês. “Há quatro anos, o governo regulou empresas e o lucro da FinVolution caiu bastante, por isso começaram a expandir internacionalmente, ninguém sabe quando pode haver uma nova regulação”. A diversificação geográfica já levou a fintech para Filipinas e Indonésia, o que ajuda a mitigar os riscos.
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“É uma empresa que opera entre quatro e cinco vezes o lucro projetado e cresce 20% ao ano, uma baita oportunidade, mas com risco relevante. Daqui a pouco, a China pode representar a menor parte de sua receita, o que diminui muito o risco de regulação chinesa”.

Val
Em contraste a uma empresa que projeta carros voadores e outra que está revolucionando o crédito na Ásia, o Dynamic também investe em uma companhia da velha economia. A Val oferece maquinário e serviços para petroleiras, tese pouco atraente para os investidores que enxergam a transição energética como iminente.
Para Breyer, há dois cenários possíveis para a ação: “de fato, as petroleiras vão parar de investir e a tese não vai dar certo, ou as empresas retomam os investimentos e o papel se valoriza muito porque estão descontados”. O gestor, claro, tem o segundo cenário como mais provável e argumenta que as petroleiras voltarão a investir quando a produção começar a cair nos campos de petróleo.
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Por outro lado, se o primeiro cenário se concretizar, o valor do patrimônio da Val e sua baixa alavancagem mitigam o risco do investimento. “A empresa pode aguentar muito tempo sem investimento em petróleo, enquanto outras têm até maior potencial de valorização, mas estão pagando juros”, diz o gestor do Dynamic.
Ibex
Por último, Yuhzô Breyer lista uma empresa de terceirização de serviços como telemarketing, atendimento ao cliente e suporte técnico. A Ibex contrata mão de obra em países como Índia e Paquistão e ainda presta serviço nesses países, o que diminui o custo com pessoal e ainda diversifica suas fontes de receita.
Além disso, a companhia vem investindo em inteligência artificial para automatizar serviços e cortar ainda mais custos. “É uma ação muito barata, que negocia a 10 vezes o lucro, tem crescimento muito estável, de 20% ao ano, vai precisar contratar cada vez menos e terá uma margem cada vez maior”, conclui o gestor.