A Super Quarta deixou um cenário de contrastes para os investidores: de um lado, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) cortou os juros no país em 0,25 ponto percentual, para uma banda entre 4,00% a 4,25% ao ano; do outro, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% no Brasil. Diante desse cenário, como fica a tese de investimentos no exterior e onde investir?
Para especialistas, a resposta é unânime: a tese continua não apenas intacta, mas reforçada. Eles alegam que investir no exterior é muito mais estrutural (ligado a uma estratégia de longo prazo e diversificação) do que cíclico/conjuntural (associado a movimentos de curto prazo, como os juros).
“Acreditamos que a alocação em um portfólio de ativos globais em complemento ao portfólio de ativos locais faz sentido estruturalmente para a grande maioria dos investidores brasileiros, até mesmo os conservadores, entre outros fatores, pela maior eficiência sob o ponto de vista de risco x retorno”, disse Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP.
Os motivos são vários: reduzir o risco do Brasil, que é uma economia emergente e mais suscetível a choques e crises econômicas que impactam diretamente nos retornos dos ativos; ter acesso a um mercado de capitais e setores mais amplos, visto que o país tem apenas 1 ou 2% das ações globais; e manter o patrimônio em moeda forte, como o dólar.
“O Brasil é uma economia pequena frente ao mercado financeiro global e, ao concentrar investimentos aqui, o investidor se expõe demais a riscos políticos, fiscais e cambiais. Mesmo com a Selic ainda atrativa, não faz sentido abrir mão de estar exposto a empresas globais, setores inovadores e mercados mais maduros”, disse Claudio Ianface Junior, economista e sócio da The Hill Capital.
Onde se posicionar em renda fixa global?
Na renda fixa internacional, os títulos de maior qualidade e duration mais longa, como treasuries (os títulos do Tesouro dos EUA) e bonds corporativos investment grade, passam a ganhar destaque em um cenário de queda de juros nos EUA, “tanto pela valorização potencial quanto pela diversificação”, disse Felipe Chad, sócio e fundador da 3P Capital.
Sgavioli, da XP, tem visão semelhante, sugerindo uma duration próxima a 3 ou 4 anos, enquanto o índice de referência (global aggregate) tem duration de cerca de 6 anos. Junior, da The Hill Capital, também vai na mesma linha, mas vê os títulos com um prazo maior ainda ganhando destaque, como os Treasuries de 10 e 30 anos e papéis corporativos de boa qualidade (investment grade).
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Renda variável: tecnologia, saúde e megatendências no radar
Na renda variável global, o ambiente de queda de juros nos EUA tende a favorecer setores de crescimento, como tecnologia e saúde, além do consumo discricionário. Junior apontou duas megatendências que não param de ganhar força: “transição energética e a digitalização da economia”, disse.
Pedro Ferroni, sócio diretor da Quartzo Capital, disse que vale ficar de olho em ações que estejam de cibersegurança, em setores relacionados a inteligência artificial (IA), segurança naval e saúde. “São setores que acredito que possam ter grande avanço (em cenário de juros baixos)”.
Quanto investir fora e quais os riscos?
A área de alocação da XP recomenda um percentual mínimo de 15% do patrimônio financeiro investido diretamente no exterior. “Dentro desse total, a orientação é que 55% seja destinado à renda fixa internacional, sendo 42% em títulos públicos (Treasuries) e 13% em títulos corporativos”, disse Diego Correia, líder executivo na área de investimentos internacionais da casa.
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Para o especialista, a diversificação internacional cumpre um papel de proteção contra riscos locais e cambiais e representa uma oportunidade de risco-retorno, considerando a força do dólar e a valorização no médio e longo prazos. “Em outras palavras: ao investir fora, o cliente descorrelaciona de volatilidades domésticas, preserva seu poder de compra e participa de setores e tendências globais”.
Investir no exterior, porém, também traz desafios, segundo especialistas. Entre eles, a volatilidade cambial, que pode reduzir ou ampliar o retorno quando convertido para a moeda local. Além disso, há riscos políticos e econômicos do país de destino, bem como possíveis mudanças regulatórias que podem impactar os investimentos.