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Gustavo Zupak, Pedro Ivo Almeida e Victoria Leite, com redação do ESPN.com.br
31 de jul, 2025, 14:37
A menção em um áudio interceptado pela Polícia Federal foi o motivo que fez Samir Xaud ser alvo da “Operação Caixa Preta”, deflagrada na quarta-feira (30) e que levou as autoridades a cumprirem mandado de busca e apreensão na sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), no Rio de Janeiro.
A investigação é sobre possíveis crimes eleitorais em Roraima e tem a deputada Helena Lima, do MDB, e seu marido Renildo Lima como figuras centrais. É em um áudio do empresário que Samir Xaud é citado. O Ministério Público do Estado, inclusive, foi contrário à inclusão do dirigente entre os investigados, mas a Justiça Eleitoral autorizou a busca e apreensão contra ele, apesar desse parecer.
Segundo apurou a ESPN, a defesa de Samir Xaud já entrou com recurso no Tribunal Regional Eleitoral de Roraima contra a decisão que autorizou a inclusão de seu nome entre os mandados.
A reportagem teve acesso aos documentos que fundamentaram o pedido de inclusão de Samir Xaud entre os investigados. Seu nome aparece em uma conversa de Renildo com Vavá do Thianguá, então candidato a vereador na cidade, mencionando a indicação do dirigente para cargo político.
Renildo foi preso em setembro de 2024, às vésperas das eleições municipais, com R$ 500 mil em Boa Vista, capital de Roraima, e parte desse dinheiro estava dentro de sua cueca.
“Agora nós estamos mais fortes, graças a Deus, porque eu e Helena tivemos o cuidado de colocar nas superintendências políticos que já foram testados nas urnas e bem votados, por exemplo, o Samir teve 5000 votos, então o pedido dele, pelo menos 500 ele consegue”, diz Renildo.
Na ocasião, Samir Xaud era secretário-adjunto de Saúde de Boa Vista, na gestão do prefeito Arthur Henrique, também do MDB, que acabou reeleito. Na eleição citada, o hoje presidente da CBF concorreu a deputado federal, em 2022, e teve 4.816 votos, insuficientes para ser eleito.
Ele acabou, contudo, ficando como suplente do partido, que elegeu Helena, com 15.848 votos. Foi a segunda melhor marca registrada entre os candidatos a deputados federais em Roraima.
A PF aponta, sob a liderança do grupo de Helena e Renildo, a “possível existência de organização criminosa voltada à compra de votos, financiamento ilícito de campanhas eleitorais e utilização de empresas vinculadas aos investigados para viabilização de vantagens indevidas, com indícios de emissão gratuita de passagens rodoviárias, contratações simuladas, cessão de cargos públicos e pagamentos a eleitores e candidatos aliados”, como descrevem os documentos obtidos pela ESPN.
Em relação a Samir Xaud, a PF pediu que ele fosse incluído como alvo dos mandados de busca e apreensão, em sua casa, empresa e sede da CBF; fosse afastado de cargo público; tivesse valores e bens bloqueados; e também tivesse suspenso o sigilo bancário.
Esse pedido foi apreciado pelo Ministério Público do Estado de Roraima, que se manifestou contrário à inclusão do nome de Samir Xaud nas autorizações que foram concedidas pela Justiça.
“No estado em que se encontram os autos, não há indícios concretos ou individualizados de que determinados investigados, notadamente (…) Samir Xaud (…), integrem organização criminosa, tampouco que tenham praticado, concorrido ou se beneficiado dos crimes eleitorais apurados”, disse o MP.
A manifestação do MP em relação a Samir Xaud, contudo, não foi completamente acatada, e o presidente da CBF foi alvo dos mandados de busca e apreensão. Os demais pleitos da PF não foram atendidos para o dirigente, assim como recomendou o Ministério Público.
Sobre Samir Xaud, o relatório final da Justiça Eleitoral de Roraima, que autorizou a operação nos moldes citados, escreve:
“O representado é apontado nos autos como vinculado ao esquema investigado, principalmente pelas declarações constantes em áudio encaminhado por Renildo a um candidato a vereador, no qual Samir é citado expressamente como parte do núcleo político do grupo”, inicia.
“Segundo a autoridade policial, a mensagem revela que Samir teria sido nomeado estrategicamente a cargo de direção, sendo utilizado para captação de votos em benefício do grupo, uma vez que a frase sugere que suas indicações seriam revertidas em votos para os candidatos aliados, indicando possível utilização de sua função pública para favorecimento eleitoral, conduta que, em tese, configura abuso de poder político e captação ilícita de sufrágio”, segue.
“Dessa forma, imperioso é concluir que, ainda que não constem nos autos outras conversas diretas envolvendo o investigado na operacionalização do esquema, o áudio demonstra, em cognição sumária, que sua nomeação integrava a estratégia do grupo liderado por Maria Helena e Renildo para ampliação de influência política por meio da máquina administrativa, o que reforça a necessidade de aprofundamento investigativo sobre sua atuação no cargo”, encerra o texto.
Ainda na quarta, a CBF se manifestou sobre a busca e apreensão realizada na sede da entidade, ressaltando que Samir Xaud “não era o centro das apurações”.
“A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informa que recebeu agentes da Polícia Federal em sua sede entre 6h24 e 6h52 desta quarta-feira, num desdobramento de investigação determinada pela Justiça Eleitoral de Roraima. É importante ressaltar que a operação não tem qualquer relação com a CBF ou futebol brasileiro e que o presidente da entidade, Samir Xaud, não é o centro das apurações”, inicia a nota.
“A CBF esclarece que, até o momento, não recebeu nenhuma informação oficial sobre o objeto da investigação. Nenhum equipamento ou material foi levado pelos agentes. O Presidente Samir Xaud permanece tranquilo e à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários”, complementa.