Um estudo realizado por pesquisadores do Museu Nacional na Ilha da Trindade, no Espírito Santo, mostra como é possível, e também complexo, recuperar ambientes degradados na natureza.
A pesquisa comparou mudanças na vegetação do território, que fica a mais de mil quilômetros da costa do Estado, entre 1994 e 2024.
A Ilha sofreu durante séculos com a intervenção humana, principalmente pela introdução de cabras, o que levou à degradação de espécies nativas.
Os pesquisadores observaram fatores como precipitação, temperatura e vento, e concluíram que essas condições intensificaram a ação desses animais. Sem predadores naturais, as cabras aumentaram sua população e consumiram grande parte da vegetação nativa.
Márcia Gonçalves, autora do estudo, detalha como a presença dos caprinos foi um fator importante para a degradação do ambiente.
“A degradação das espécies nativas se intensificou com a introdução das cabras no século 18, quando elas passaram a se alimentar de praticamente toda a vegetação disponível, incluindo plantas endêmicas, ou seja, aquelas que só existiam ali. Elas impediram o crescimento de mudas, causaram a erosão do solo, e reduziram a cobertura vegetal, levando a um empobrecimento geral do ecossistema”.
Felipe Zuñe, também autor da pesquisa, aponta que os resultados podem contribuir para a compreensão de mudanças ambientais em outras ilhas.
“O caso da Ilha da Trindade é exemplar para outras ilhas tropicais que enfrentam problemas semelhantes com invasões biológicas. Mostramos que remover espécies invasoras é eficaz, mas ainda assim precisa vir acompanhada de ações de restauração ambiental e manejo adaptativo que considerem outros fatores, como são os fatores ambientais”.
Segundo o pesquisador, para restaurar a vegetação é necessário além do controle de espécies invasoras, como foi feito com as cabras, restaurar a vegetação, com o plantio de espécies nativas, e monitorar continuamente as mudanças climáticas locais.