Enquanto operários em Belém correm para concluir o novo centro de convenções que receberá a COP30, em novembro, representantes de países mais vulneráveis ao aquecimento global demonstram preocupação com a possibilidade de participar de negociações decisivas para o seu futuro.
A oferta de hospedagem em Belém é limitada e os preços estão altos. Embora os organizadores intensifiquem os esforços para garantir mais quartos, delegações de países em desenvolvimento e em risco consideram reduzir sua presença, o que diminuiria sua visibilidade e poder de negociação.
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Evans Njewa, de Malawi, que preside o Grupo dos Países Menos Desenvolvidos sobre Mudança do Clima, disse que “um número significativo de negociadores” dos mais de 40 países-membros “pode não comparecer ou ficar no Brasil apenas alguns dias” por causa das dificuldades de hospedagem, embora as opções ainda estejam em avaliação.
Ilana Seid, de Palau, lidera a Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS), que reúne 39 nações costeiras e insulares. O grupo está “frustrado e preocupado com o nível de avanço” da logística da conferência, afirmou.

Países desenvolvidos também reduzirão presença. A ministra de Política Climática e Crescimento Verde da Holanda, Sophie Hermans, disse que o país estará na COP30, mas com uma delegação menor. “Estamos indo por um tema muito importante, clima e energia. Mas também precisamos pensar nos custos porque, para a opinião pública na Holanda e no mundo, ter clareza sobre gastos e quem paga por eles é fundamental”, afirmou.
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Quando as COPs começaram, há mais de 30 anos, cientistas e diplomatas cabiam em um único hotel. Hoje, os encontros reúnem dezenas de milhares de pessoas por pelo menos duas semanas, incluindo líderes globais, ativistas, lobistas e celebridades.
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Belém, cidade de 1,5 milhão de habitantes na Amazônia, ampliou sua rede hoteleira, e os organizadores também reservaram cabines em navios de cruzeiro. Mas as tarifas subiram a níveis próximos aos de hotéis de luxo no Rio de Janeiro. Em setembro, uma carta de 19 páginas enviada a vários países mostrou que quase metade das dúvidas recebidas pelos organizadores tratava de preços e disponibilidade de hospedagem. A possibilidade de transferir o evento foi descartada.
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O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse que os países em risco terão condições de participar. O Brasil reservou 15 quartos para cada uma das 73 nações classificadas pela ONU como menos desenvolvidas ou pequenos Estados insulares, com diárias abaixo de US$ 200.

Até 25 de setembro, apenas 87 países tinham garantido hospedagem em Belém, menos da metade dos 196 esperados. Corrêa do Lago afirmou que não é incomum. “Não há muita tradição de confirmar com antecedência. Alguns ainda não fecharam os pacotes, mas as negociações estão em andamento.” Segundo os organizadores, foram mapeadas 53 mil camas em Belém e região.
O número de quartos, porém, é insuficiente para delegações de alguns países. Palau enviou 41 representantes para a COP29; o Sudão do Sul, 56. Os EUA levaram 234 e o Brasil, 649. Já as delegações africanas costumam ter de 60 a 100 pessoas, disse Richard Muyungi, da Tanzânia, que preside o Grupo Africano de Negociadores. Esses números não incluem representantes da sociedade civil e lideranças indígenas.
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Muyungi disse que abrirá mão da própria acomodação até garantir que outros tenham onde ficar. “Serei o último. Falei aos meus colegas que preciso garantir primeiro que todos tenham hospedagem.”
Se países pobres e vulneráveis reduzirem suas delegações, a COP30 — concebida para dar destaque às desigualdades na Amazônia — corre o risco de ser menos inclusiva do que edições anteriores em cidades maiores, como Dubai. Isso pode influenciar o andamento das negociações.

Delegações grandes permitem presença em todas as mesas de negociação simultâneas e favorecem encontros bilaterais. “Parte de avançar em uma COP são as conversas paralelas para destravar pontos”, disse Jake Schmidt, do Natural Resources Defense Council. “Delegações pequenas não conseguem fazer isso.”
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Também garantem que representantes possam se revezar durante duas semanas de discussões que quase sempre avançam pela madrugada. “Há países cuja estratégia é desgastar. Depois apresentam algo de última hora, quando todos estão exaustos e ministros já precisam ir embora, e isso acaba sendo aceito”, afirmou Schmidt.
No passado, delegações inteiras abandonaram negociações porque não tinham como estender passagens nem pagar mais diárias. Em 2009, a COP15 em Copenhague fracassou em parte por esse motivo. “A questão é: quem vai pagar a conta? Quem vai bancar a extensão das passagens?”, disse Seid, da AOSIS.
©️2025 Bloomberg L.P.