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Ao longo da minha trajetória como Tabeliã do 15º Ofício de Notas da Capital, tive a honra de presenciar e lavrar inúmeros testamentos. Cada um deles, a seu modo, revelou as emoções mais profundas da alma humana. Sempre digo que o testamento é a expressão simultânea de dois sentimentos antagônicos: o amor e o ressentimento.
Muitos que me procuram desejam proteger, através da disposição de seus bens, aqueles que amaram intensamente. Outros, movidos por mágoas ou decepções, buscam excluir de seu legado aqueles que lhes causaram dor — e, não raro, deixam no papel as marcas desses sentimentos que tanto nos consomem.
No último dia 21 de abril, o mundo despertou mais silencioso e entristecido: partiu o Papa Francisco. E, para surpresa de muitos, ele também deixou um testamento.
No entanto, ao contrário dos documentos comuns que tratam da distribuição de bens materiais, a herança de Francisco ao mundo foi de uma natureza muito mais elevada.
No seu testamento, o Papa Francisco não destinou riquezas, propriedades ou honrarias. A sua última vontade foi, mais uma vez, um ato de profunda humildade e autenticidade: pediu para ser sepultado na Basílica Papal de Santa Maria Maior, num túmulo simples, rente ao chão, sem qualquer ornamentação especial, onde apenas estivesse gravado o nome Franciscus.
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Além disso, deixou provisionada a quantia necessária para as modestas despesas com sua despedida.
Assim, em sua partida, como em sua vida, o Papa Francisco nos ensinou que o verdadeiro legado não se mede em posses, mas na simplicidade, na humildade e no amor que deixamos como testemunho de nossa passagem pela Terra.
O seu testamento nos convida a refletir sobre o que realmente importa, despojando-nos das vaidades efêmeras e cultivando valores que transcendem o tempo. Que o exemplo de Francisco permaneça como farol a iluminar nossos caminhos, inspirando-nos a viver com simplicidade, a servir com generosidade e a amar com a pureza, renovando em nós a certeza de que, no fim, somos lembrados menos pelo que tivemos e mais pelo que fomos para os outros.”
Fernanda Leitão é tabeliã
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