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Rodrigo Bueno
27 de jun, 2025, 06:36
Como é uma competição completamente nova no futebol, diferente de tudo que já aconteceu antes em termos de Mundial Interclubes, entendo que seja compreensível essa busca frenética de teses para provar isso e aquilo no torneio da Fifa com 32 times bem desiguais no verão dos Estados Unidos e com grande público sul-americano, o que só exemplifica quem tem interesse maior na disputa.
O temor excessivo dos europeus, que era visto e discutido desde a criação do novo Mundial de Clubes, deu logo lugar a uma super autoestima dos brasileiros selando que “o bicho não é tão feio assim” após os empates do Palmeiras e do Fluminense contra Porto e Borussia Dortmund, respectivamente, o grande “amasso” do Flamengo no Chelsea e, sobretudo, a vitória épica do Botafogo em cima do Paris Saint-Germain. Atuações pouco convincentes depois, inclusive contra adversários de continentes menos cotados, colocaram um pouco os pés no chão dessa turma tão empolgada de início. A chegada do mata-mata com a perspectiva de duelos contra a elite europeia, agora mais disposta, já causaram certo choque de realidade. A ordem dos favoritos iniciais, no fim das contas, não mudou.
A discussão sobre a Conmebol encarar a Uefa de peito aberto caiu por terra na medida em que os dois representantes argentinos, Boca Juniors e River Plate, decepcionaram e caíram na fase de grupos, não conseguindo superar em campo nem o mexicano Monterrey (caso dos “Millonarios”) nem o humilde semiprofissional Auckland City (maior vergonha da história do Boca). Ainda vimos cenas de selvageria na eliminação justa do River diante da Inter. Foram cinco expulsões de jogadores da dupla argentina neste Mundial. Mesmo com imenso apoio da torcida, a atmosfera de Libertadores não deu resultado, e os gigantes “hermanos” levaram a pior contra os europeus, assim como têm perdido quase sempre dos brasileiros no mais nobre torneio interclubes da América do Sul nesta década por motivos financeiros.
Com o chaveamento do torneio definido, é possível imaginar que as quartas de final da competição da Fifa terão sete times europeus e só um “intruso”: o vencedor do duelo entre Botafogo e Palmeiras. O Flamengo, melhor elenco do nosso continente, pegou um caminho terrível. Ele não é o favorito contra o Bayern, assim como o Flu não é contra a desfalcada Inter.
Se der mesmo a lógica e contarmos na semana que vem sete europeus entre os oito melhores do torneio, qual será o discurso depois? Imagino que todos irão concordar, se é que ainda não fizeram, com Filipe Luís, treinador do Flamengo, que destacou que há uma elite europeia que pratica uma espécie de outro esporte.
O Bayern de Munique está nessa lista atualmente, não o Chelsea, campeão da Conference League (a “terceira divisão” da Europa). Isso torna impossível uma vitória do Flamengo sobre o gigante alemão? Não, tanto que o Botafogo superou por 1 a 0 o Paris Saint-Germain, atual campeão da Champions League que, claro, também integra a tal primeira prateleira do futebol mundial. Por razões econômicas, nenhum time brasileiro ainda está nesse topo.
Houve quem mandasse um vídeo de alguns meses atrás em que eu falava que a nata do futebol está na Europa. Queriam saber se eu mantinha a opinião eurocentrista. Mesmo que um brasileiro venha a vencer o Mundial de Clubes, eu vou continuar com meu discurso. Pois é um fato, uma realidade. Os Estados Unidos perdem de vez em quando uma competição importante de basquete, mas nem por isso deixam de ter o melhor da bola laranja em sua badalada liga: a NBA.
Os clubes brasileiros mais endinheirados hoje competem sem complexo de inferioridade com o segundo pelotão europeu, no qual se encontram hoje Atlético de Madrid, Benfica, Borussia Dortmund, Chelsea e Juventus. Hoje, não coloco nessa prateleira o Porto e o Red Bull Salzburg, que entraram no Mundial por conta do ranking da Uefa e da regra que impediu um país de ter mais que dois representantes no torneio (exceção feita se houver vários campeões continentais de um mesmo país no ciclo de quatro anos). Os poderosos Barcelona e Liverpool, em especial, pagaram por isso e ficaram de fora da festa deste ano. São outros integrantes hoje da elite europeia, estariam entre os favoritos. Dos 12 europeus que foram para esta bacana disputa nos EUA, 9 entraram com base no frio ranking da Uefa.
Com a chegada de várias SAFs e uma organização melhor, o futebol brasileiro pode encurtar a diferença para a elite europeia, mas isso não é uma tarefa simples nem vai acontecer de uma hora para outra. O Botafogo “rapidamente” saiu da Série B para derrotar o campeão vigente da Champions, mas houve um trabalho grandioso para chegar a este momento histórico, e o triunfo glorioso contra o PSG se deu em 90 minutos. Seria muito mais complicado para o Botafogo vencer quatro mata-matas seguidos contra os times europeus da primeira prateleira e seria quase impossível superar os gigantes do Velho Continente em um campeonato de pontos corridos.
O dinheiro faz enorme diferença no esporte, e no futebol atual isso é muito visível. A tradição e a grandeza dos maiores clubes brasileiros não merecem muita discussão, uma vez que eles são todos colossos e patrimônios do nosso país. Porém o Brasil, embora esteja entre as maiores economias do planeta, não tem muito como competir com as ligas mais caras da Europa. Por mais que a Fifa tenha colocado a mão no fundo do bolso e distribuído fortunas neste Mundial, a Premier League, LALIGA e a Champions League ainda pagam mais ao seu campeão. E é bom lembrar que este atraente festival da máxima entidade do futebol vai acontecer apenas de quatro em quatro anos. No resto, será aquele cenário que conhecemos, com a Europa sendo a grande vitrine desse amado esporte.
Eu cheguei a duvidar da realização do Mundial de Clubes, pois imaginei que talvez os clubes europeus não topassem disputá-la por motivos financeiros e por ferir o calendário deles. A parte econômica foi resolvida pela Fifa, e o período do torneio tem sido usado por alguns times como pré-temporada de luxo (muitos europeus já faziam excursões no meio do ano para os Estados Unidos e para a Ásia, em especial). Eu pensei que algumas das principais equipes do Velho Continente não usariam força máxima ou fariam muitas experiências na disputa da Fifa, mas tenho visto um interesse verdadeiro no torneio, como vemos nas falas de técnicos e atletas dessas equipes. E essa disposição apenas tende a aumentar no mata-mata. Veremos o Flamengo e o Fluminense em uma autêntica reta final de Champions League a partir de agora. E o vencedor de Botafogo e Palmeiras possui chance real de ir à semifinal, o que seria visto aqui como uma excelente campanha. Será que o cenário será muito diferente em 2029, quando está prevista a segunda edição do Mundial?
Sinceramente, não creio. Já está bastante difícil para os clubes sul-americanos vencerem a Copa Intercontinental, agora com selo Fifa. Vencer essa disputa repleta de times da elite europeia é um sonho quase impossível.
Sonhos muitas vezes se realizam. Não estou aqui para tirar a animação de ninguém, apenas sou um pouco realista na análise. Quem vencer esta Copa será o maior campeão mundial da história, seja se for um brasileiro, um mexicano, um norte-americano, um asiático ou um europeu!
Onde assistir ao Mundial de Clubes?
O Mundial de Clubes terá transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.