As ações da Braskem (BRKM5) voltaram a ser pressionadas depois que a companhia anunciou, na última sexta-feira (26), a contratação de assessores financeiros e jurídicos para revisar sua estrutura de capital. E um novo capítulo da crise veio nesta segunda-feira (29), com os papéis da companhia chegando a ceder quase 4% na sessão após a S&P Global Ratings rebaixar a classificação de crédito global da companhia de “B+” para “CCC-“, com perspectiva negativa.
Às 13h04, a ação reduzia as perdas para queda de 1,85%, a R$ 6,89, mas o acumulado do ano não é nada animador: após tombo de 14,81% na última sexta, somado ao recuo de hoje, a ação já desvaloriza mais de 40% em 2025.
O que analistas dizem
O movimento de sexta foi lido no mercado como sinal de que a petroquímica pode estar se preparando para uma reestruturação mais ampla de sua dívida, hoje em patamar elevado e com margens comprimidas pelo ciclo global da indústria química.
O JPMorgan avalia que a empresa opera com alavancagem de 10,5 vezes, nível considerado insustentável, com dívida líquida estimada em US$ 7,3 bilhões ao fim deste ano e podendo alcançar US$ 8,6 bilhões no quarto trimestre (4T25). Segundo os analistas, a Recuperação Judicial (RJ), processo formal de renegociação de dívidas supervisionado pela Justiça, ainda é vista como último recurso. A presença da Petrobras como acionista relevante, dizem, ajudaria a garantir uma condução mais organizada, reduzindo riscos para os credores.
Para o banco, uma readequação da estrutura de capital exigiria forte corte do endividamento. O cálculo é que, para atingir uma alavancagem líquida próxima de três vezes, o nível ideal de dívida líquida deveria cair para cerca de US$ 3,1 bilhões, menos da metade do atual. Os analistas também lembram que 83% da dívida está concentrada em títulos internacionais e que a maior parte é sem garantia (unsecured), o que dá espaço de negociação aos detentores de bonds.
A visão das agências de rating
Para piorar a situação, As agências Fitch e S&P cortaram a nota de crédito da Braskem, mostrando que a empresa está mais próxima de ter dificuldades para pagar suas dívidas. A Fitch reduziu a classificação global de BB- para CCC+ e a nota no Brasil de AA(bra) para CCC(bra), sinais de que o risco de inadimplência subiu bastante.
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A S&P também rebaixou a empresa para CCC-, com perspectiva negativa, apontando que a contratação de consultores financeiros e jurídicos indica que a Braskem pode precisar reestruturar suas dívidas em breve. Ambas as agências lembram ainda que a alta dívida e a queda nos preços do setor petroquímico aumentam os riscos financeiros da companhia nos próximos anos.
Mais do que reestruturação
O Bradesco BBI concorda que a revisão da estrutura é importante, mas diz que sozinha não resolve os problemas. Em relatório, o banco afirmou que “não existe bala de prata” para mudar a trajetória da Braskem. Para os estrategistas, outras medidas precisarão ser combinadas, como corte de custos, venda de ativos, renegociação de contratos de matérias-primas e até uma oferta de ações.
Entre as possíveis alavancas está o projeto de lei 892/2025, o Programa Especial para a Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), que prevê concessão de créditos tributários ao setor. O tema já trouxe algum alívio em julho, quando a Câmara aprovou regime de urgência para a proposta, levando BRKM5 a saltar mais de 8% em um único pregão.
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A expectativa era que o programa pudesse gerar até US$ 500 milhões por ano em lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) até 2026, segundo estimativas da XP. Mas analistas voltam a alertar que, mesmo aprovado, o Presiq seria insuficiente para resolver os problemas estruturais da companhia, já que os custos com juros e investimentos obrigatórios consomem boa parte desse valor.
O que esperar da ação BRKM5?
Na mesma linha que o BBI, o UBS BB afirma que, no curto prazo, a Braskem precisa de tarifas de importação mais altas e da aprovação do Presiq para conter a queima de caixa. O banco rebaixou a recomendação de BRKM5 de compra para neutro e cortou o preço-alvo de R$ 15 para R$ 10.
No lado técnico, as ações da Braskem acumulam queda de 39,38% neste ano, sendo 25,08% apenas em setembro, segundo o analista Rodrigo Paz. Em 12 meses, a desvalorização chega a 63,48%. O papel está no menor preço do ano e segue em forte tendência de baixa, com grande pressão vendedora.
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O Índice de Força Relativa (IFR), que mede o ritmo das oscilações de preço, está em 33,58 pontos. Esse nível, diz Paz, indica que a ação está próxima da chamada “zona de sobrevenda”, quando o ativo pode estar barato demais. Isso pode abrir espaço para pequenas recuperações de curto prazo, mas sem mudar a tendência principal de queda.
Segundo a análise, as próximas barreiras de preço (resistências) estão em R$ 9,86, R$ 12,59, R$ 14,98, R$ 20,98 e na faixa de R$ 27,53. Já os pontos de maior atenção na queda (suportes) ficam em R$ 7,02, que momentaneamente já foi ultrapassado, seguido de R$ 6,15, R$ 5,30, R$ 4,05 e R$ 3,68.
Títulos em baixa
Enquanto isso, os títulos da empresa no exterior seguem negociados em forte desconto. O JPMorgan projeta que a maioria dos bonds deve se manter na faixa de US$ 43 a US$ 45,75, com exceção dos papéis de 4,5% com vencimento em 2028 e dos híbridos de 2081, cotados entre US$ 5 e US$ 15.
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O banco também cortou a recomendação overweight (OW), equivalente a compra, dos títulos de 5,875% com vencimento em 2050 para neutro, afirmando que “não vê necessidade imediata de ajustar a recomendação”.