A nova rodada de tarifas comerciais anunciadas pelo presidente Donald Trump voltou ao centro das discussões sobre a economia internacional. Para analistas da XP, o movimento adiciona incertezas ao mercado global, afeta o equilíbrio da inflação nos Estados Unidos e reacende debates sobre a força do dólar e a dinâmica das moedas emergentes.
O tema foi um dos destaques da abertura da International Week, evento online realizado pela XP que discutirá, até o dia primeiro de outubro, os mais importantes e atuais desafios globais. Na estreia, o economista-chefe Caio Megale e o estrategista macro sênior para a América Latina Marco Oviedo falaram sobre a política tarifária do republicano, marcada por improvisos e objetivos políticos, gerando volatilidade e desorganização nos mercados.
“As tarifas que a administração de Trump anunciou até agora têm sido o evento que mais movimentou os mercados nos últimos meses”
Oviedo lembrou que, em países como México e Canadá, diretamente expostos à integração comercial com os EUA, o impacto foi moderado, mas deixou marcas. No Brasil, tarifas de até 50% sobre determinados bens foram interpretadas como medidas de caráter político. Para Oviedo, o grande efeito das tarifas está na “incerteza”, que redesenha fluxos globais e pressiona a inflação americana.
Segundo o estrategista, quem paga a conta são os consumidores dos Estados Unidos.
“A tarifa mais elevada é sobre a China, e isso tem o maior impacto inflacionário, porque, no fim das contas, quem paga são os americanos”
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Fed corta juros, mas cautela predomina
Com a inflação acima da meta, mesmo que em trajetória moderada, o Federal Reserve voltou a reduzir juros em setembro. O movimento foi visto pelo mercado como sinal de cortes adicionais, mas Caio Megale avalia que a autoridade monetária deve agir com prudência.
“A economia segue firme, o mercado de trabalho apenas um pouco mais fraco e a inflação subiu muito pouco. A sensação é de que podem cortar mais duas ou três vezes, mas talvez até menos do que o mercado precificou”
A expectativa em torno da política monetária americana afetou o dólar, que se desvalorizou fortemente no primeiro semestre. A combinação da política errática de Trump e da sinalização de cortes de juros pelo Fed valorizou moedas emergentes como real, peso mexicano e peso chileno.
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Apesar disso, Megale alerta para um cenário mais equilibrado daqui para frente. “O dólar deve ficar estável, e a economia americana continua andando, mas de forma desacelerada. Não é um mercado negativo, mas tende a apresentar menos tendências fortes.”
China desacelera, mas governo mantém crescimento
Outro ponto de atenção é a China. Oviedo ressaltou que o país enfrenta uma desaceleração controlada, com expectativa de crescimento de 4,8% em 2024, perto da meta oficial de 5%. Para o próximo ano, a projeção cai para 4,2%.
O estrategista destacou que Pequim ainda dispõe de instrumentos para sustentar a atividade. “Eles podem seguir cortando a taxa de referência e ampliar estímulos via crédito, construção e infraestrutura”, disse. Segundo ele, a estratégia deve manter a economia próxima das metas de expansão.
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O mercado imobiliário segue como risco, mas, até aqui, o governo conseguiu contê-lo. Para Megale, isso ajuda a sustentar os preços de commodities em patamares razoáveis.
“O petróleo está estabilizado perto de US$ 68, um nível que favorece países como Brasil e México”
O cenário, segundo os analistas, é de um equilíbrio global instável: nem forte o bastante para impulsionar ativos, nem fraco o suficiente para causar crises.
Moedas da América Latina ganham fôlego
Na América Latina, o diferencial de juros tem sido determinante para a valorização cambial. O real, por exemplo, se apreciou cerca de 14% desde o fim do ano passado, mas o peso mexicano e o peso colombiano chegaram a registrar ganhos ainda maiores.
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Segundo Oviedo, cerca de 70% da valorização se explica pela queda do dólar, enquanto 30% têm relação com fatores locais, como política fiscal e decisões de bancos centrais.
“México e Colômbia oferecem um carrego atrativo, enquanto Chile, que cortou juros mais cedo, acabou com uma moeda mais fraca”
Para os especialistas da XP, o ambiente que se desenha é de maior volatilidade, com mercados reagindo tanto a decisões externas — como tarifas e juros nos EUA — quanto a fatores domésticos, especialmente em países emergentes.