Em pouco mais de um ano, Javier Milei conseguiu reduzir a inflação de três dígitos na Argentina ao implementar um ajuste fiscal duro e imediato. O resultado impressiona pela rapidez, mas a sustentabilidade política dessa estratégia ainda é incerta.
Para Armínio Fraga, economista, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, o experimento argentino traz lições importantes para o Brasil, que, segundo ele, segue “brincando com fogo” ao adiar reformas e conviver com juros persistentemente altos.
“O que Milei fez foi muito impressionante, porque ele fez o ajuste de fato. Não é que prometeu um pequeno ajuste para daqui a quatro anos. Ele foi lá e fez”, afirmou Armínio Fraga. Apesar disso, destacou as fragilidades da estratégia: “Em alguns aspectos, é bem fundamentada, mas em outros é meio tosca. Ele sabe disso.”
Na avaliação do ex-presidente do Banco Central, o maior desafio para Milei é resistir às pressões da classe política, um fator que historicamente tem minado reformas na Argentina.
“Não tem nada que seja blindado se o mundo político não se organizar e não se comportar”
As declarações foram dadas no podcast Outliers, produzido pelo InfoMoney e conduzido por Clara Sodré, analista de fundos da XP, e Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP.
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Pressão sobre bancos centrais
O economista também abordou um movimento global de interferência dos governos sobre os bancos centrais.
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Nos Estados Unidos, lembrou ele, houve cobranças públicas de Donald Trump pelo corte de juros e até a demissão de dirigentes do Federal Reserve, como Lisa Cook.
“É muito fácil, sobretudo para um político com veia populista, dizer que as metas de inflação já são um dado e que agora pode aproveitar um pouco, fazer o que gosta. Só que isso é perigoso”, afirmou.
Na visão dele, a crença de que os bancos centrais poderiam resolver todos os problemas econômicos criou expectativas irreais e desgastou instituições que deveriam ser protegidas. “A ideia de que os bancos centrais podem fazer tudo me parece equivocada e perigosa”, disse.
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Fraga reforçou ainda que o trabalho de uma autoridade monetária depende do apoio da política fiscal.
“O banco central é tão bom quanto a sua política fiscal. Cortar juros sem contrapartida pode até parecer uma economia imediata, mas, no fim, gera prêmio de risco e taxas mais altas”