A turbulência, por muito tempo tratada apenas como um desconforto da aviação, começa a ser vista com mais seriedade. Cada vez mais passageiros se perguntam: quão perigoso é o ar instável?
Dados recentes reforçam a preocupação: um estudo britânico revelou que a turbulência severa no Atlântico Norte aumentou 55% entre 1979 e 2020, impulsionada pelas mudanças climáticas que alteram ventos e pressões atmosféricas.
Foi nesse contexto que o físico Bjorn Birnir, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, e a pesquisadora Luiza Angheluta-Bauer, da Universidade de Oslo, apresentaram um novo modelo para explicar o fenômeno. Publicado na Physical Review Research, o estudo é descrito como o mais abrangente já feito sobre a dinâmica turbulenta. A reportagem é do New York Times.
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Um olhar duplo sobre o caos
O avanço está em combinar duas abordagens clássicas da física. A mecânica lagrangiana, que observa o movimento de uma partícula isolada, como uma folha levada pela correnteza, e a euleriana, que foca no fluxo ao redor de um ponto fixo, como a água desviando de uma rocha.
Até então, cada método explicava apenas parte do fenômeno. Juntos, criam uma leitura mais completa do que acontece nos céus. “O resultado é inédito”, disse Katepalli Sreenivasan, ex-reitor da Escola de Engenharia Tandon da Universidade de Nova York, ao New York Times.
Se bem incorporado, o modelo pode refinar previsões meteorológicas e até influenciar o design de aeronaves. “Quanto melhor o modelo, mais segura será a decisão do piloto”, avaliou Thomas Carney, professor aposentado da Universidade Purdue e piloto com mais de 11 mil horas de voo.
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O impacto não é teórico. Em julho, um voo da Delta Air Lines enfrentou correntes inesperadas sobre o Wyoming, ferindo passageiros. Para Birnir, o caso é um exemplo típico de “intermitência severa” na turbulência euleriana.
Um modelo mais avançado, diz ele, poderia ter dado aos pilotos informações para agir de forma preventiva.
O desafio da imprevisibilidade
A turbulência é considerada por físicos como um dos maiores enigmas da ciência clássica. Richard Feynman, Nobel de Física, já a chamou de “o problema não resolvido mais importante”. Isso porque depende de múltiplos fatores — vento, temperatura, pressão — que mudam rapidamente.
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“Mesma turbulência, histórias diferentes”, resumiu Tomek Jaroslawski, do Centro de Pesquisa de Turbulência de Stanford.
Apesar de o trabalho ainda estar distante de aplicações imediatas na aviação comercial, especialistas acreditam que o caminho está aberto. “Estou confiante de que eles estão contribuindo para o avanço do conhecimento”, disse Carney.