Quando Larry Ellison entrou em sua nona década em 2024, seu estilo de vida de alto padrão parecia estar desacelerando. O futuro prometia menos corridas emocionantes de iates e combates simulados sobre o Pacífico, e mais gestos filantrópicos para garantir seu legado. Afinal, magnatas do software também envelhecem.
Mas, em um capítulo surpreendente, mesmo para os padrões dos verdadeiramente ricos, Ellison decidiu de repente se tornar um magnata da mídia, com um portfólio e poder que podem superar os de lendários predecessores como Hearst e Pulitzer.
A Oracle (ORCL34), empresa de tecnologia que Ellison cofundou e ainda controla após quase meio século, está entre os investidores na nova versão americana do TikTok, o aplicativo de vídeos curtos que afirma ter 170 milhões de usuários nos EUA. Ellison possui mais de 40% das ações da Oracle e é seu diretor de tecnologia.
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Muitos detalhes sobre o novo TikTok ainda são incertos, incluindo a divisão exata das ações e quem comandará a empresa. A única suposição segura é que o app será controlado por pessoas simpáticas ao presidente Donald Trump. A família Murdoch, dona da Fox News, “provavelmente” será outro investidor, disse o presidente no último fim de semana em entrevista à Fox News.
O Congresso ordenou que a empresa chinesa ByteDance se desfizesse do TikTok por razões de segurança nacional, numa lei cuja aplicação foi adiada por Trump.
Com seu apelo notável entre os jovens, o TikTok é um prêmio valioso. A Oracle já tem uma relação com o app, usando seus servidores em nuvem para gerenciar os dados dos usuários americanos. Mas esse novo acordo pode dar acesso à empresa ao lado voltado para o consumidor. A maior investida da Oracle no mercado consumidor, o computador em rede nos anos 1990, foi um fracasso.
O TikTok é apenas uma parte do portfólio de mídia da família Ellison, que cresce rapidamente. O filho de Ellison, David, que recentemente fechou um acordo de US$ 8 bilhões para Paramount e CBS e está deixando sua marca nessas empresas, é amplamente noticiado como preparando uma oferta muito maior pela Warner, que inclui a CNN.
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Em qualquer outra época, os obstáculos regulatórios para possuir TikTok, CBS e CNN, junto com uma grande fatia de Hollywood, seriam intransponíveis. Este é um momento diferente, em que estar nas boas graças de Trump conta muito. O presidente disse em janeiro que gostaria que Elon Musk, então seu conselheiro próximo, ou Ellison comprassem o TikTok.
Famílias poderosas já controlaram grandes pedaços da mídia americana no século passado, mas seu alcance era frequentemente limitado por fatores geográficos ou outros. A família Chandler, dona do Los Angeles Times, dominou o sul da Califórnia por décadas, mas tinha pouco poder em outras regiões. Rupert Murdoch é dono da Fox e do Wall Street Journal, mas as missões editoriais dessas empresas não se sobrepõem totalmente.
Na era digital, essas limitações estão desaparecendo.
“Tudo está se consolidando”, disse Michael Socolow, historiador de mídia da Universidade do Maine. “O que torna esses negócios diferentes é que eles abrangem múltiplas plataformas. Ter a oportunidade de estabelecer uma linha editorial no TikTok, CBS News e CNN — isso é um mundo novo.”
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A Paramount preferiu não comentar.
Dinheiro, uma restrição tradicional para impérios da mídia, não é obstáculo para Ellison. Recentemente, ele viu o valor de suas ações na Oracle subir cerca de US$ 100 bilhões, tornando-o brevemente o homem mais rico do mundo. Ellison agora tem um patrimônio líquido de US$ 367 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index. Musk está à frente.
Ellison, 81 anos, está presente no Vale do Silício há muito mais tempo que qualquer outro fundador. Em 1977, ele e dois colegas fundaram a Software Development Laboratories, que alguns anos depois foi renomeada Oracle, em homenagem ao seu principal produto de banco de dados.
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Ele era menos um gênio técnico e mais o principal vendedor. A Oracle enfrentou várias crises, mas sobreviveu e prosperou, ao contrário da maioria das empresas de software daquela época.
No caminho, Ellison foi o protótipo do empreendedor de tecnologia que trabalha duro e se diverte muito. Foi casado várias vezes e possui grandes propriedades, incluindo quase toda a ilha havaiana de Lanai. Também é dono de um caça SIAI-Marchetti S.211, comprado da marinha italiana, e teria usado o avião para combates simulados com o filho.
“Frequentemente, estou em uma reunião e a pessoa diz: ‘Meu Deus, você não é nada do que eu imaginava’”, disse Ellison em entrevista de 2012. “Claro, o padrão é baixo. Eu não mordi a cabeça de um animalzinho antes da reunião.”
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Ellison nunca demonstrou muito interesse pela mídia além de usar entrevistas nos anos 1990 para criticar Bill Gates, cofundador da Microsoft e seu inimigo de longa data. Seu filho está em negociações para adquirir o The Free Press, uma nova publicação digital que se apresenta como oposição à mídia tradicional. O veículo é dirigido por Bari Weiss, que provavelmente terá algum controle sobre a CBS. Weiss trabalhou como editora da seção de opinião do The New York Times e ocasionalmente escreveu ensaios.
Ellison, que não respondeu a pedido de comentário, está acumulando dinheiro mais rápido do que consegue planejar como gastá-lo. Tem se dedicado ultimamente a uma vasta entidade filantrópica com fins lucrativos que está construindo na Universidade de Oxford, onde diz que vai “concentrar meus recursos”. Mas, nas últimas semanas, o instituto de pesquisa, chamado Ellison Institute of Technology, enfrentou algumas das mesmas turbulências que marcaram os projetos filantrópicos anteriores de Ellison.
O bilionário tem um histórico de mudar de ideia sobre seu trabalho filantrópico ou romper com as pessoas que contrata para gerenciá-lo. Neste mês, Ellison se separou de John Bell, cientista renomado que havia sido contratado no ano passado para liderar o EIT e que deu credibilidade instantânea ao projeto.
A cultura científica britânica é menos comercial que a dos Estados Unidos, situação que o instituto pretendia mudar ao desenvolver várias startups nas ciências da vida e outras áreas.
“Não temos ninguém como ele no Reino Unido”, disse Bell sobre seu benfeitor. “Então, tê-lo aqui dizendo ‘vou construir meu legado aqui no Reino Unido’ é um passo incrível. E ele poderia ter ido para qualquer lugar.”

Em meados de agosto, Ellison contratou Santa Ono, ex-presidente da Universidade de Michigan, com um cargo que parecia superior ao de Bell. Ellison disse que Bell iria “colaborar” com Ono. Mas duas semanas depois, Bell anunciou sua saída, chamando o instituto de “projeto muito desafiador”.
Ellison tem sido muito presente no instituto, segundo uma pessoa próxima, comunicando-se regularmente com Bell e participando de reuniões no escritório do instituto em Oxford. Há tensão na liderança sobre a melhor forma de comercializar a pesquisa científica de Ellison, além de dúvidas persistentes sobre o quanto o instituto pode confiar que Ellison cumprirá seus compromissos financeiros.
c.2025 The New York Times Company