A redução da pressão dos preços de alimentos nos últimos três meses, somada ao menor nível de desemprego e ao reforço da renda de muitos brasileiros vêm impulsionando o consumo e reconfigurando a composição da cesta de abastecimento. O consumo nos lares brasileiros avançou 2,08% em agosto em relação a julho, conforme levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Na comparação com agosto de 2024, a alta foi de 4,56%, enquanto no acumulado de 2025 o indicador sobe 2,68%. Os dados já consideram a inflação medida pelo IPCA e contemplam todos os formatos de supermercados, de acordo com a entidade.
A queda nos preços de alimentos pelo terceiro mês consecutivo levou os consumidores a deixarem de comprar itens de menor valor se deslocando para produtos de preço médio, que passaram de 44,1% para 56,3% da cesta de commodities, uma alta de 12,2 pontos percentuais em um ano.
“Com o aumento da massa salarial, existe não apenas maior consumo básico de alimentos, mas também diversificação da cesta, com parte da demanda migrando para itens de maior valor agregado”, explica o vice-presidente da Abras, Marcio Milan.
Emprego e renda em alta
Os dados da PNAD Contínua, feita pelo IBGE, confirmam esse movimento. A população ocupada chegou a 102,4 milhões no trimestre encerrado em julho, com acréscimo de 400 mil pessoas em um ano. Já a massa de rendimento real habitual subiu de R$ 322,4 bilhões para R$ 352,3 bilhões, um ganho de quase R$ 30 bilhões no período.
Além da melhora estrutural, o consumo foi reforçado por recursos extraordinários, como restituições do Imposto de Renda (R$ 12,9 bilhões entre julho e agosto), repasses do Bolsa Família (R$ 12,8 bilhões), Auxílio-Gás (R$ 554 milhões), pagamentos do PIS/Pasep e devoluções do INSS por descontos indevidos. Nos próximos meses, novas transferências e liberações, como o programa Gás do Povo e saques do PIS/Pasep, devem manter o impulso sobre o consumo.
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Cesta de consumo
O AbrasMercado, que mede a variação de preços de 35 produtos de largo consumo, caiu 1,06% em agosto, para R$ 804,85, marcando o terceiro recuo mensal seguido.
As carnes puxaram a queda, com destaque para frango congelado, que caiu 1,45%, carne bovina traseiro, baixa de 0,86% e ovos, que caiu 1,66%. Já entre os básicos, arroz recuou 2,61%, feijão (-2,30%) e café (-2,17%), ficando também mais baratos. No acumulado de 2025, o arroz e o feijão lideram as reduções, com queda de 19,12% e 5,45% respectivamente.
No entanto, em 12 meses, as proteínas ainda acumulam altas expressivas, como carne bovina dianteiro, com aumento de 29,15%, e frango congelado, alta de 9,9%. Para a Abras, a estiagem, os custos elevados de produção e a valorização do dólar (que favorece exportações) explicam esse descompasso.
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Entre os in natura, houve forte queda no tomate (-13,39%), cebola (-8,69%) e batata (-8,59%). Já itens de higiene e limpeza registraram altas moderadas, como creme dental (+1,68%) e sabão em pó (+0,55%).
Panorama regional
O Nordeste liderou a queda da cesta em agosto, com baixa de 1,72%, seguido pelo Norte, queda de 1,50% e Sudeste de 1,23%. Apesar do recuo, o Norte ainda concentra as cestas mais caras do país, enquanto o Nordeste mantém os menores valores médios.
No recorte de 12 produtos básicos, nove ficaram mais baratos, reforçando o alívio no orçamento das famílias. Recife, São Luís e Salvador registraram os menores preços médios, enquanto Rio Branco e Belém seguem no topo do ranking das capitais mais caras.