A inadimplência do agronegócio aumentou nos bancos públicos federais no atual governo, entre o primeiro semestre de 2023 e os primeiros seis meses deste ano.
Os atrasos superiores a 90 dias afetaram o desempenho do Banco do Brasil (BB), tradicional agente financeiro do setor; da Caixa Econômica Federal, que passou a apostar no crédito aos produtores rurais na gestão Bolsonaro, do Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia (Basa).
Excesso de chuva no Sul e falta no Nordeste foram os principais motivos da frustração na lavoura, segundo Henrique Southier, assessor de investimentos da Ável Investimentos, que analisou os balanços semestrais divulgados pelos bancos.
O reflexo dos problemas climáticos nos balanços dos bancos públicos ficou evidente em agosto, quando o BB divulgou o balanço semestral deste ano. O índice de inadimplência, com atrasos acima de 90 dias, subiu para 4,21% na comparação com o primeiro semestre de 2023, puxado pelo agronegócio. No primeiro semestre de 2023, era 3%.
E nesta quinta-feira, o balanço do primeiro semestre deste ano da Caixa mostrou que o percentual de atraso subiu 2,66 pontos percentuais na comparação com o mesmo período de 2023. Entre abril e junho deste ano, a inadimplência do agronegócio na instituição disparou para 7,02%, contra 4,3% nos primeiros três meses do ano, o que levou o banco a restringir o crédito ao setor.
No BNB, o índice de inadimplência subiu para 3,61% no primeiro semestre de 2025, o que representa uma preocupação, na visão do analista. No início de 2023, eram 3,2%.
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“Esse aumento exige uma maior atenção do banco, pois pode levar a um aumento das provisões para devedores duvidosos, o que impactaria o lucro futuro”, disse Southier.
O Basa também registrou leve aumento da inadimplência no primeiro semestre de 2025, atingindo 3,45%. No início de 2023, era 1,87%. A piora no indicador pode se agravar devido à vulnerabilidade da região aos fatores climáticos.
“A forte atuação em setores como a agricultura e o agronegócio torna o banco mais suscetível aos impactos de eventos climáticos extremos. A seca na Amazônia, por exemplo, pode afetar a capacidade de pagamento de produtores rurais, o que representa um risco para a carteira de crédito”, afirmou Southier.
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Segundo ele, o perfil da carteira com foco no agronegócio, embora seja um setor promissor, impõe maiores desafios aos bancos públicos. Isso sem contar os efeitos da alta na taxa básica de juros, Selic, em 15% ao ano, no custo do crédito e consequentes calotes pela corrosão na capacidade de pagamento dos tomadores.
O tombo no lucro do BB de 40% no primeiro semestre deste ano devido principalmente ao agronegócio e consequente aumento da provisão para crédito duvidosos está forçando o banco a buscar receitas com a venda de produtos como consórcio, seguros, empréstimos consignados e fundos.
Entre os bancos públicos, o BB foi o único a registrar queda no resultado. O lucro líquido ajustado, descontado todas as despesas, inclusive impostos, no primeiro semestre de 2023 foi de R$ 17,3 bilhões. Em igual período deste ano, baixou para R$ 11,2 bilhões.
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Além da elevada exposição ao crédito rural, que apresenta alta na inadimplência, pedidos de recuperação judicial e crescente volume de operações prorrogadas, o BB e demais bancos públicos atravessam processo intenso de transformação digital, com foco na redução do custo do atendimento, mencionou Alexandre Martins, Analista de Modulo Capital.
“Entre os bancos privados, esse movimento já se encontra em estágio avançado e naturalmente para os bancos nativos digitais”, disse Martins.