O Fundo de Estabilização Cambial (FSE, na sigla em inglês) do Tesouro dos EUA, que deverá ser usado para apoiar a Argentina em seu atual sufoco cambial – conforme antecipado pelo próprio secretário Scott Bessent — já serviu para socorrer o Brasil em várias ocasiões. A última foi na virada de 1998 para 1999, quando o país enfrentou uma forte desvalorização do Real, numa crise que culminou com o fim do regime de bandas e a adoção do câmbio flutuante.
O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), sofreu os efeitos da crise de confiança de emergentes quando a Rússia entrou em default, em setembro de 1998. Só naquele mês, o país perdeu US$ 22,2 bilhões em reservas. Foi lançado um grande plano de estabilidade fiscal e o governo brasileiro procurou o FMI para um pacote de ajuda de 36 meses, no valor de US$ 41,5 bilhões.
Nessa negociação, os EUA entraram com uma garantia de US$ 5 bilhões por meio desse fundo de estabilidade do Tesouro, numa operação que sofreu críticas porque havia dúvidas sobre a capacidade do FSE de fazer empréstimos estrangeiros sem a aprovação do Congresso.
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Na época, o presidente Bill Clinton escreveu uma carta destacando que “um Brasil forte é do interesse dos Estados Unidos e o presidente Cardoso lançou um programa sólido para atacar os problemas fiscais e comprometeu-se a executá-lo prontamente”. “Um Brasil forte torna os EUA mais fortes”, concluiu – uma mensagem muito similar aos elogios da política fiscal da Argentina que Bessent fez hoje.
These options may include, but are not limited to, swap lines, direct currency purchases, and purchases of U.S. dollar-denominated government debt from Treasury’s Exchange Stabilization Fund.
Opportunities for private investment remain expansive, and Argentina will be Great…
— Treasury Secretary Scott Bessent (@SecScottBessent) September 22, 2025
O Fundo de Estabilização Cambial foi criado dentro da Lei de Reserva de Ouro, em 1934, e suas receitas vêm, em grande parte, de juros de investimentos e empréstimos, bem como ganhos líquidos obtidos em transações no mercado de câmbio. O FSE faz operações monetárias em que um ativo é trocado por outro, tais como como moedas estrangeiras para dólares e está sob o controle do Secretário do Tesouro, sujeito à aprovação do presidente dos EUA.
O Fundo entrou em acordos de crédito a partir de 1936 e já participou em mais de uma centena de acordos ou de empréstimo com governos ou bancos centrais estrangeiros. Após a Segunda Guerra Mundial, o FSE conduziu as transações monetárias de ouro do Tesouro e ampliou sua participação em crédito, especialmente com o fim do padrão-ouro, nos anos 1970..
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O Fundo tem sido utilizado para financiar empréstimos de curto prazo a empresas e países em desenvolvimento. A lista tem, além de Brasil e Argentina, em diversas oportunidades no passado, nações como o México, Venezuela e Nigéria.
Segundo dados do próprio fundo, o Brasil acessou linhas de crédito do FSE em 1937, 1942, 1955 e 1961. E obteve garantias em 1982, 1988 e em dezembro de 1998, no caso citado acima.
Segundo dados oficiais, desde 1980, México, Brasil e a Argentina foram de longe os maiores tomadores de empréstimos. Após a crise do peso mexicano, em 1994, os empréstimos do FSE ao México totalizaram US$ 12 bilhões, que foram reembolsados em janeiro de 1997.
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Os últimos países latino-americanos a serem socorridos em alguma operação do FSE foram o México, em 2000, e o Uruguai, em 2002.