O governo do presidente dos Estados Unidos Donald Trump deve arrecadar uma taxa de bilhões de dólares de investidores como parte da transação para assumir o controle das operações do TikTok nos EUA, segundo o jornal The Wall Street Journal. Com isso, a negociação representa o mais recente episódio de uma série de acordos lucrativos do governo dos EUA com o setor privado.
Segundo fontes familiarizadas com o assunto, ouvidas pelo WSJ, os investidores pagariam a taxa ao governo em troca de negociar o acordo com a China. Trump e o presidente chinês Xi Jinping conversaram sobre acordo por ligação nesta sexta, definindo negociação com ‘base nas regras de mercado’.
A estrutura final e o valor do pagamento ainda não foram definidos, mas a taxa pode chegar a bilhões de dólares, disseram as fontes ao Wall Street Journal.
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No mês passado, a Intel concordou em ceder 10% de participação acionária ao governo do país, que se tornou o maior acionista da companhia. No mesmo mês, Trump fechou acordo com Nvidia e AMD, que concordaram em pagar 15% da receita de vendas de chips na China ao governo dos EUA, para garantir licenças de exportação.
Trump tem adotado uma série de medidas para ampliar sua influência sobre o setor privado em seu segundo mandato, o que preocupa alguns republicanos, segundo o Wall Street Journal. O jornal lembra que governo dos EUA recebeu uma “golden share” (ação de ouro) na aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel, o que dá ao presidente o poder de aprovar decisões estratégicas da empresa.
No caso do TikTok, o jornal destaca que embora Trump já tenha mencionado que o governo poderia receber uma quantia como parte do acordo, o valor de bilhões de dólares chama atenção, podendo ser considerado uma grande quantia pela função de apenas intermediar um negócio.
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Trump teria dito na última sexta-feira, no Salão Oval, que o tamanho do acordo e o esforço aplicados pelo governo justificariam a “taxa enorme” direcionada aos Estados Unidos.
O jornal lembra ainda que bancos de investimento que assessoram em operações típicas recebem taxas de menos de 1% do valor da transação, e a porcentagem geralmente diminui à medida que o tamanho do negócio aumenta. E, normalmente, o governo não recebe pagamentos de empresas por aprovações de segurança nacional ou licenças de exportação. Há até especialistas que consideram algo ilegal.
Estrutura do TikTok
Conversas realizadas no início desta semana entre o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o vice-premiê chinês, He Lifeng, em Madri, resultaram em um acordo sobre como seria a estrutura para separar as operações do TikTok nos EUA da ByteDance. Os detalhes desse acordo ainda não foram divulgados, e Trump sugeriu na quinta-feira que a decisão final caberia ao presidente chinês.
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Embora o acordo sobre o TikTok ainda não tenha sido anunciado oficialmente, segundo as negociações mais recentes, já haveria um modelo para a compra do controle do aplicativo de vídeo nos EUA, que prevê que a chinesa ByteDance detenha no máximo 20%, e o percentual restante nas mãos de um grupo de investidores, incluindo a Oracle, a Andreessen Horowitz e a gestora de private equity Silver Lake Management LLC, segundo pessoas a par do assunto.
Trump afirmou nesta semana que o aplicativo seria “propriedade de investidores totalmente americanos” e de “empresas que amam os Estados Unidos”, mas evitou responder a uma pergunta sobre se o app exigiria um novo algoritmo. Em junho, Trump chegou a afirmar, em entrevista à Fox, ter identificado um comprador para as operações do TikTok nos Estados Unidos, sem fornecer detalhes.
O TikTok é propriedade da ByteDance. Uma decisão do governo de Joe Biden determinava que a gigante chinesa de internet deveria vender o controle das operações do TikTok nos Estados Unidos ou sair do país, e foi dado um ultimato para que a situação se resolvesse. Esse prazo, no entanto, vem sendo renovado desde o início deste ano, já na administração Trump. A última renovação venceria esta semana, mas o prazo foi estendido para até 16 de dezembro.
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O interesse de Trump em usar sua diplomacia para conquistar um acordo sobre o TikTok acabou abafando as preocupações de segurança nacional que sustentaram a lei bipartidária que, inicialmente, havia fixado o prazo de janeiro para a alienação. O presidente assinou várias ordens executivas prorrogando esse prazo — embora não esteja totalmente claro o embasamento legal para contornar a lei e permitir que o aplicativo continue operando.
Trump já foi um crítico do TikTok, mas mudou sua visão sobre o app, creditando-lhe parte de seus avanços entre os eleitores jovens na eleição do ano passado.