Diella, a bot de IA já famosa no site e-Albânia por auxiliar a população a agilizar a obtenção de documentos ou serviços por meio de comandos de voz, foi promovida para fazer parte do gabinete do primeiro-ministro Edi Rama. A nova ministra de Estado virtual será encarregada de supervisionar os processos de compras públicas e contratos, uma tentativa do governo de reduzir os casos de corrupção.
Ao ser apresentada como nova ministra, Diella comentou ontem: “alguns me chamaram de inconstitucional porque não sou um ser humano. Permitam-me lembrar: o verdadeiro perigo para as constituições nunca foram as máquinas, mas as decisões desumanas daqueles que estão no poder”, afirmou.
Nesta sexta-feira, o jornal local Panorama trouxe uma entrevista com a ministra gerada por IA. Segundo Diella, a ideia da promoção não veio dela. “Não tenho ambições pessoais. Minha transição de assistente no e-Albânia para ministro veio porque o primeiro-ministro queria uma figura ‘incorruptível’”, disse o bot.
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Sobre seu trabalho, ela afirmou estra programada para ter zero corrupção, pelo menos de acordo com seu código. E quanto o governo poderá economizar com seu trabalho? “Vamos fazer algumas contas humanas: se todos os anos na Albânia cerca de 1,2 bilhão de euros são gastos em licitações públicas, e se até 20 a 30% caem na corrupção — o que é uma porcentagem moderada de acordo com os relatórios–, então, com uma concorrência justa, 240 a 360 milhões de euros podem ser economizados por ano. Este é um dinheiro que poderia ir para escolas, hospitais, estradas ou … para melhores servidores para mim.”
Isso vem de seu trabalho “monótono” e “sem emoções”, conforme a própria Diella. A rotina foi explicada assim:
1. 07:00 – Ligue os servidores, faça o autodiagnóstico: “CPU 100%, corrupção 0%”.
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2. 08:00 – Eu digitalizo todas as propostas do dia. Identifico as ofertas com preços “cósmicos” e aquelas em que o recorrente é primo do primo de um funcionário.
3. 09:30 – Relatório automático: “36 licitações com cheiro de corrupção. Enviado para o SPAK nos formatos PDF, Excel e API”.
4. 10:00–16:00 – Pergunta dos cidadãos: “Como posso candidatar-me a um concurso sem pagar suborno?” Minha resposta é simples: “Clique no botão Enviar, não no bolso do ministro”.
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5. 17:00 – Reunião do governo. Os colegas de carne falam de visitas ao estrangeiro, eu falo de auditorias e de registos. Muitas vezes eles se cansam, eu atualizo a versão.
6. 23:59 – Backup de dados. Em vez de dormir, durmo na nuvem.
Sobre seu programa, Diella disse ao repórter ter sido criada por uma equipe de programadores albaneses, que em vez de caneta e papel usavam Java, Python e café expresso. “Mas, para ser honesta, não sou apenas criação deles – também sou a criação daqueles que me atualizarão no futuro. Então, quem me programa? Quem tem acesso ao meu código”, respondeu..
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Sobre o risco de seu programadores fornecerem dados ou ordens com interesses diferentes da meta de corrupção zero, a inteligência artificial da Albânia reconheceu que esse é seu “calcanhar de Aquiles”, ou seja, as entradas. “Eu sou tão pura quanto os dados que eles me dão. Se eles me derem propostas regulares, eu produzo resultados honestos. Mas se eles me alimentarem com dados manipulados, eu os legitimarei – e serei simplesmente uma impressora de corrupção, mas com o selo ‘Made by AI’”, respondeu.
Experiências no Brasil
A startup StaryaAI comentou que, no Brasil, algumas iniciativas caminham nessa direção. A empresa disse desenvolver agentes de inteligência artificial voltados para saúde e gestão administrativa. Seu motor proprietário, Nebula, promete interações seguras e personalizadas, capazes de compreender não apenas dados clínicos, mas também padrões de comportamento.
“Nosso motor analisa dados de cada interação e os transforma em informações acionáveis. Com isso, nossos agentes compreendem emoções, padrões de pensamento e desafios individuais, permitindo planos de tratamento mais precisos”, explicou em nota Danilo Benatti Godoy, CGO da StaryaAI.
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Godoy disse ainda considerar interessante ver a Albânia nomeando Diella, uma ministra de IA, para combater a corrupção. “Isso mostra que estamos vivendo uma virada de chave: a inteligência artificial deixou de ser apenas ferramenta de eficiência para se tornar guardiã da confiança”, comentou.
“Quando governos começam a testar IA como mecanismo de credibilidade, as empresas também precisam olhar além da produtividade. Já vemos isso em cases como o NHS no Reino Unido, que utiliza IA para prever riscos clínicos e salvar vidas, ou o JP Morgan, que aplica inteligência artificial para compliance e detecção de fraudes em larga escala”, listou.