Planejar a aposentadoria é um desafio para a maioria dos brasileiros, mas se torna mais simples quando o investidor entende seu próprio perfil e a importância de uma estratégia de longo prazo. Embora a meta de garantir um futuro financeiramente tranquilo seja comum, o caminho para chegar lá é construído com base na tolerância a riscos e nas expectativas individuais. A diversificação, a longo prazo, é um pilar fundamental, mas a alocação de ativos muda conforme o perfil: conservador, moderado ou arrojado.
O relatório da pesquisa Perfil e Comportamento dos Investidores 2024, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), aponta que 68% dos perfis moderados e 63% dos conservadores têm na aposentadoria o principal objetivo dos investimentos. Para o perfil arrojado, 76% afirmam que querem criar renda passiva, e 74% citam diretamente formar reservas para a aposentadoria (a pesquisa permitia mais de uma resposta).
De acordo com Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, e Fabio Gallo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o planejamento de aposentadoria não precisa ser algo engessado e, frequentemente, tende a se adaptar ao longo da vida.
Um jovem, por exemplo, pode ser mais agressivo em seus investimentos, pois tem tempo para recuperar eventuais perdas. Já um investidor mais maduro, com família e mais gastos, tende a adotar uma postura mais conservadora. Apesar dessas características gerais, como o objetivo da aposentadoria tende a ser de longo prazo, o tempo pode contar a favor e permitir um risco adicional, se comparado a metas de curto prazo como a reserva de emergência.
Importância e prazo
Para Gallo, o planejamento para a aposentadoria deve ir além do perfil de investimento. Para ele, a importância do dinheiro e o prazo de investimento são variáveis cruciais para determinar o risco a se assumir.
Ele sugere que o investidor crie uma matriz onde um eixo representa o prazo (curto, médio ou longo) e o outro a importância marginal do dinheiro (pouco importante, médio importante ou muito importante).
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Assim, se o prazo é curto (1 ano) e a importância é muito grande (como o planejamento de um casamento em breve), o risco deve ser zero, sendo indicado investimentos em renda fixa. Por outro lado, se o prazo é longo (30 anos) e a importância do dinheiro é baixíssima (como uma herança inesperada), o nível de risco pode ser o máximo (grau cinco), permitindo investir em derivativos, por exemplo.
“É mais importante você pensar nessas duas variáveis do que saber se você é um cara mais conservador ou não. Isso só entra no segundo momento, quando você vai pensar alternativamente entre um investimento ou outro”, explica Gallo.
Diversificação
A estratégia de diversificação serve para diluir riscos a longo prazo, como é o caso da aposentadoria. Para se ter ideia das flutuações que podem haver nos investimentos, basta olhar para os últimos cinco anos em que houve pandemia, encolhimento e expansão do mercado de trabalho, mudança de regras de tributação, e imprevisibilidades internacionais, como guerras e o tarifaço.
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Almeida sugere que o investidor olhe para as opções disponíveis no mercado considerando classes de ativos e geografias distintas. Um investidor que aplica somente em renda fixa no Brasil, por exemplo, fica completamente exposto aos acontecimentos nacionais. Caso ele invista em dólar e demais alternativas ligadas a outros mercados, ele pode diluir essas flutuações.
“O investidor que está construindo reserva para o longuíssimo prazo precisa ter ciência de que a instabilidade vai ocorrer. Por meio da diversificação, ele consegue minimizar a exposição acentuada em determinada classe ou determinada economia”, afirma.
As estratégias para cada perfil
A partir deste raciocínio, o investidor deve observar quais investimentos fazem sentido para a carteira pessoal com objetivo de aposentadoria. Mesmo com abordagens distintas, a base do planejamento para todos os perfis, segundo os especialistas, deve ser a diversificação da carteira. A alocação em diferentes classes de ativos e de geografias pode minimizar os riscos e proteger o capital no longo prazo.
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Apesar da importância do perfil, a alocação de investimentos não é fixa. “É comum que investidores adotem um certo conservadorismo para a reserva de aposentadoria”, destaca Almeida. Além disso, a vida do investidor influencia diretamente sua carteira: um jovem, sem filhos, pode assumir mais riscos do que alguém com família e mais gastos. É possível, inclusive, ser conservador no curto prazo e arrojado no longo, já que “para objetivos de longo prazo, como aposentadoria (20 a 30 anos), o investidor pode se permitir incorrer em um risco adicional”, pontua Almeida.
Assim, a carteira para aposentadoria poderia seguir a divisão abaixo, conforme os perfis clássicos de investimento:
Perfil Conservador: Para este perfil, a prioridade é a previsibilidade e a preservação do capital. Aqui, o núcleo da carteira de aposentadoria é composto por fundos de previdência e títulos de renda fixa de longo prazo, como o Tesouro IPCA+ e o Renda+. O objetivo é garantir um fluxo de caixa previsível e corrigido pela inflação. De acordo com Fabio Gallo, uma carteira conservadora pode ser composta por cerca de 70% em renda fixa e o restante em fundos multimercado, com pouca ou nenhuma exposição a ações. |
Perfil Moderado: Esse investidor busca um equilíbrio entre risco e retorno. Ele ainda mantém uma parte significativa da carteira em ativos de menor risco, mas já se permite incluir fundos de crédito privado, fundos multimercado e, em alguns casos, uma pequena parcela em ações. |
Perfil Arrojado: Quem se identifica com esse perfil aceita correr mais riscos em busca de retornos maiores no longo prazo. O arrojado também pode ter um fundo de previdência como núcleo, mas sua exposição a renda variável, como ações e fundos imobiliários, é significativamente maior, segundo Almeida. Fabio Gallo sugere que este perfil diminua a parte mais conservadora da carteira para 30% a 40% e, em seguida, invista em fundos e mantenha “pelo menos 20% em ações”. |