O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, avalia que o Brasil segue distante de uma trajetória consistente de crescimento e que a narrativa de austeridade fiscal no país nunca se concretizou.
Para ele, o gasto público aumentou, a política monetária segue pressionada e o país precisa aproveitar as oportunidades de produtividade global para não repetir mais décadas de estagnação.
“Que austeridade, cara? O gasto público foi de 25% para 34% do PIB, não teve austeridade aqui nunca. E aí estamos pagando esse juro”
Segundo o economista, se houver sinais de melhora no ambiente fiscal e institucional, o mercado tende a reagir rapidamente.
“O mercado funciona no gerúndio. Se as coisas estiverem melhorando, os preços dos ativos sobem, o investimento aumenta, e o Brasil pode se engatar no trem da produtividade global”, disse.
As declarações foram dadas no episódio 171 do Outliers InfoMoney, programa que reúne grandes nomes do mercado financeiro para discutir teses, oportunidades e desafios da economia global. A condução ficou a cargo de Clara Sodré, analista de fundos da XP, e Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP.
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O papel das reformas e o risco da polarização
Ao longo da conversa, Fraga ressaltou que o país já avançou em reformas importantes, como a trabalhista, a da Previdência e a tributária, além da independência do Banco Central. No entanto, ele alerta que a excessiva polarização política ameaça comprometer ganhos futuros.
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“Se ficar uma coisa ‘hiperpolarizada’, ‘hiperpopulista’, ‘curtoprazista’, acho que a gente vai afundar”, afirmou. Para ele, existe um “centro político” que pode se tornar protagonista na aprovação de medidas relevantes.
“Ninguém é bobo. Se for possível trazer esse centro e dar a ele responsabilidade, nós vamos ver o Congresso reagir e viabilizar várias reformas”, disse.
Fraga ponderou ainda que, apesar das dificuldades, há espaço para otimismo.
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“O Brasil tem muito espaço para melhorar, mas a nossa governança maior vai ter que se organizar. As decisões de longo prazo precisam ser tomadas, e aí acredito que o resultado vem espetacularmente bem.”
Inflação, juros e o risco da dominância fiscal
Questionado sobre a trajetória da inflação e da taxa de juros no Brasil, Fraga avaliou que a queda para níveis “mais civilizados” só será possível se houver equilíbrio fiscal.
“A economia tende a se desacelerar em função dessas taxas e dessa incerteza toda. Mas a queda dos juros não virá sem o fiscal. O que temos hoje não dura para sempre”, afirmou.
O ex-presidente do BC destacou ainda o risco de dominância fiscal, quando a política monetária perde eficácia diante do desequilíbrio das contas públicas.
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“Chega uma hora que a ferramenta do Banco Central perde a eficácia, porque você quer fugir da moeda brasileira. Estamos entre o abismo e, vamos dizer, até mesmo um paraíso”
Ele reforçou que não há registro de países que tenham conseguido sustentar crescimento econômico com política monetária restritiva e fiscal expansionista ao mesmo tempo. “Não tem porque esperar que dê certo aqui no Brasil”, resumiu.