Ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga fez um duro diagnóstico da economia brasileira, comparando a sua situação com a de um paciente em estado grave. Para ele, o país não está diante da ‘morte’, mas precisa de tratamento urgente para evitar complicações maiores.
“O Brasil não é um paciente terminal. Está em estado grave, mas tem muito espaço para melhorar. Não deveria ser difícil o país crescer 3% ou 4% ao ano por um bom tempo. Mas decisões corajosas terão de ser tomadas”, disse Fraga.
As declarações foram dadas no podcast Outliers, produzido pelo InfoMoney e conduzido por Clara Sodré, analista de fundos da XP, e Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP.
Fraga defendeu reformas profundas e alertou para os riscos de complacência diante do cenário atual.
Problema do país sempre foi juro elevado
Apesar de reconhecer que os últimos anos trouxeram sinais positivos de crescimento, o economista destacou que a trajetória dos juros continua sendo um dos maiores entraves para o desenvolvimento do país.
Segundo ele, a combinação de desequilíbrios fiscais e baixo nível de poupança mantém o país refém de taxas elevadas.
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“O grande problema do país sempre foi o juro. Grande parte disso vem da ‘despoupança’ do governo e do fato de o Brasil poupar pouco. Não é um espaço em que se pode ter juros hiper baixos, como na China”
Fraga ressaltou a importância do regime de metas de inflação, que trouxe previsibilidade à política monetária desde os anos 2000, mas advertiu que confiar apenas nesse mecanismo é insuficiente.
“O termômetro dos juros está dizendo: cuidado. Esse paciente Brasil ainda está péssimo. O problema é sério e ainda não se desenvolveu totalmente”
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Reformas urgentes e o papel do Estado
Para o sócio-fundador da Gávea Investimentos, o Brasil só voltará a inspirar confiança se enfrentar de frente seus desequilíbrios estruturais.
Ele defendeu ajustes na Previdência, uma reforma administrativa mais ampla e a revisão de subsídios, apontando que o gasto público cresceu nas últimas décadas sem contrapartida em investimentos.
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“Há 30, 40 anos, o gasto público era 25% do PIB. Hoje está em 34%. Só que os investimentos caíram. Isso mostra uma questão de prioridades mal definidas”
Além da agenda econômica, Fraga destacou que o país também precisa atacar problemas sociais e institucionais, como segurança pública, combate ao crime organizado e corrupção, fatores que, segundo ele, corroem a confiança e a moral coletiva.