O Banco do Brasil (BBAS3) está explorando meios de reforçar o resultado após o forte baque no balanço do segundo trimestre, e entre as alternativas estudadas está um novo spin-off, dessa vez da sua unidade de consórcios.
No seu Dia do Investidor, realizado na quarta-feira (24) em Nova York, a gestão do BB comentou a contribuição positiva de subsidiárias, como BB Seguridade (BBSE3) e Cielo, e não descartou a possibilidade de desmembramento do BB Consórcios — negócio descrito pelo Goldman Sachs como “altamente lucrativo”. Segundo o banco, a divisão de consórcios respondeu por 2% das receitas e 4% do lucro líquido em 2024.
Na avaliação da Genial Investimentos, um IPO do BB Consórcios poderia reforçar o capital do Banco do Brasil, ajudando a mitigar parte da pressão adicional esperada para 2026, estimada em cerca de – 105 pontos-base no índice de capital principal (CET1). Esse impacto resulta do fim do programa CGPE (–60 bps), do segundo ano de efeito da Resolução 4.966 (–25 bps), da devolução de instrumentos híbridos (–10 bps) e do aumento do risco operacional regulatório (–10 bps).
Inadimplência do agro
Um dos principais pontos para o BB, no entanto, é reduzir a inadimplência do agro, com a expectativa por mudanças regulatórias que ajudem a reduzir a pressão sobre provisões.
No início do ano, houve aumento inesperado de inadimplência e casos de recuperação judicial, concentrados em cerca de 20 mil clientes, com 52% do índice de inadimplência (NPL) no Centro-Oeste e Sul. Cerca de 50% do aumento veio de soja, milho e pecuária. Dos NPLs de 90 dias de recuperação judicial (R$ 5,4 bilhões em 808 clientes), 90% estão provisionados.
Diante desse cenário, o Banco do Brasil adotou uma série de ajustes, entre os quais:
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- implementou a matriz de resiliência como filtro para aprovação de crédito;
- revisou o processo de cobrança, unificando fluxos de varejo e atacado; intensificou o uso de Inteligência Artificial na concessão;
- reforçou as garantias, migrando gradualmente de hipoteca para alienação fiduciária — já presente em 60% dos desembolsos do Plano Safra 25/26, ante 31% no ciclo anterior;
- passou a ser mais seletivo nos novos desembolsos, com precificação ajustada ao perfil do cliente;
- ampliou o engajamento em ações legais e protestos.
O Banco do Brasil reiterou a projeção de crescimento de 3 a 6% para empréstimos rurais em 2026. Atualmente, o banco é o maior do segmento, com 49% de participação de mercado e carteira de R$ 405 bilhões, embora tenha perdido participação devido à concorrência mais forte, mesmo com aumento de volumes.
Em termos de qualidade, o crédito rural representou 47% da perda esperada no 2T25 e atingiu saldo de inadimplência de 90 dias de R$ 12,7 bilhões em junho. Dentro da carteira de pessoas físicas, o crédito agrícola respondeu por 29% da inadimplência, mas apenas 6% dos empréstimos, evidenciando o impacto do deterioramento rural no segmento de varejo.
Dividendos
Em relação ao capital, os executivos reiteraram que a geração orgânica de lucros é a principal alavanca, com aumento de capital como último recurso.
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Já a política de dividendos permanece ancorada em um payout mínimo de 30%. A redução foi uma medida proativa para compensar impactos de 2026 e manter capital acima do mínimo aprovado. Ainda assim, a gestão não descarta distribuição de dividendos extraordinários caso a rentabilidade melhore.
Horizonte a médio prazo continua desafiador
O JPMorgan disse que o encontro não alterou sua visão sobre o banco. O horizonte de curto a médio prazo continua desafiador, e a administração foi transparente quanto a isso. “Por exemplo, mencionou que o 3T25 deve permanecer tão desafiador quanto o 2T25, já refletido nas projeções”, comenta.
Embora mudanças contábeis possam trazer algum alívio ao capital e à margem financeira líquida (NII), o JPMorgan destaca que trata-se apenas de um ajuste contábil, sem impacto real em geração de caixa. Além disso, a visibilidade de parte das carteiras segue limitada.
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De modo geral, segundo a XP Investimentos, o BB posiciona 2025 como um ponto de inflexão, com o objetivo de restaurar a rentabilidade, a flexibilidade de capital e o ímpeto de crescimento a partir de 2026.
Valuation
Atualmente, as ações do Banco do Brasil são negociadas a 0,7 vez o P/VPA (Preço sobre Valor Patrimonial) em 2025 e 4,5 vezes o P/L (Preço sobre Lucro) para 2026. O JPMorgan manteve recomendação neutra e preço-alvo de R$ 24.
O Goldman Sachs manteve classificação neutra e com preço-alvo de R$ 20, com as ações negociando a 5,1 vezes P/L estimado para 2026, enquanto o preço-alvo sugere 4,6 vezes. A Genial Investimentos também reiterou recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 22.
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Por outro lado, o Morgan Stanley disse ter saído confiante do encontro e reiterou recomendação de compra. As ações, agora negociadas a 0,7 vez P/VPA e 6,2 vezes P/L de 2025, parecem atraentes, especialmente em relação à expectativa da administração de um ROE de 15% no próximo ano.