O mercado global voltou a dar sinais de que o chamado “risco Trump” pode se tornar um dos principais vetores de volatilidade nos próximos meses.
Dentro os efeitos, o mais visível está no câmbio: o dólar perdeu força e o euro atingiu o maior patamar desde 2021, movimento impulsionado por dúvidas sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos e pela possibilidade de maior interferência política no Federal Reserve.
O gatilho veio de duas frentes. Por um lado, indicadores do mercado de trabalho americano abriram espaço para cortes de juros pelo Fed. Por outro, a política tarifária de Donald Trump e sua influência sobre decisões econômicas reacenderam receios sobre a credibilidade da moeda americana.
A combinação de juros em queda e risco de ingerência política enfraquece o dólar e desloca capital para outras geografias.
Esse tipo de movimento, porém, não é inédito. Sempre que a independência dos bancos centrais foi colocada em xeque, moedas nacionais perderam força rapidamente — o exemplo recente da Turquia costuma ser citado como alerta.
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A leitura dos riscos geopolíticos
Aurélio Bicalho, economista-chefe e sócio da Vinland Capital, analisou o tema em entrevista ao Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo. Para ele, há um ponto curioso: parte do mercado reage de forma mais dura às tarifas de Trump do que à escalada geopolítica recente.
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“Hoje vemos China, Rússia, Irã e Coreia do Norte mais articulados. O perigo está muito mais aí do que nas tarifas do Trump”
Segundo Bicalho, a ausência dos Estados Unidos como “polícia do mundo” durante o governo Biden abriu espaço para tensões globais, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, os ataques do Hamas a Israel e os riscos no comércio do Mar Vermelho.
Nesse contexto, o retorno de Trump ao protagonismo, ainda que com medidas controversas, teria reduzido parte da incerteza geopolítica imediata.
Efeitos nos fluxos de capitais
Do ponto de vista dos investidores, o dólar mais fraco combinado a um alívio relativo no campo geopolítico cria condições para redirecionar recursos a ativos de risco fora dos EUA, especialmente em mercados emergentes. Isso explica a valorização do euro e a reabertura de espaço para diversificação de alocação global.
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Ainda assim, a confiança no Fed segue como peça central. Desde 2018, quando os EUA cortaram pontes com a Rússia no sistema Swift, fluxos globais passaram a refletir preocupações sobre segurança de reservas internacionais, levando à busca maior por ouro e outras alternativas.
Reflexos no Brasil
No Brasil, a bolsa tem renovado recordes históricos, mesmo diante de incertezas fiscais e políticas. O mercado parece antecipar não os ruídos imediatos, mas uma eventual transição de governo em 2026, aproveitando o “carrego” positivo até lá.
Bicalho ressalta que o nó brasileiro continua sendo fiscal. Para ele, o país avançou em instituições importantes, como a autonomia do Banco Central, mas não conseguiu garantir crescimento sustentado.
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Programas subsidiados em excesso, alta da dívida pública e aumento da carga tributária sem contrapartidas claras seguem sendo entraves.
Em resumo, enquanto o “risco Trump” pressiona o dólar e fortalece o euro no curto prazo, o Brasil continua preso a velhas discussões internas que limitam sua competitividade em comparação a outros emergentes.