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Rodrigo Bueno
26 de set, 2025, 11:42
As presenças de Palmeiras e Flamengo nas semifinais da CONMEBOL Libertadores não são nenhuma novidade. São as equipes dominantes no Brasil nos últimos anos por conta de suas saudáveis administrações que resultaram em clubes milionários para os padrões sul-americanos. O domínio de ambos se reflete mais claramente no campeonato de pontos corridos, com a dupla tendo conquistado cinco dos últimos sete títulos do principal torneio do país. E, tudo indica, neste ano de 2025 mais uma vez duelarão até o fim pelo posto de campeão do Brasil, apenas com o Cruzeiro sendo o outsider da vez na disputa pela taça (o Atlético-MG e o Botafogo já entraram nessa briga nesta década por uma temporada, também à base de muito investimento pontual). Só que a tão cobiçada Libertadores, com toda a sua história pautada bastante por lendárias camisas pesadas e torcidas apaixonadas, virou também uma espécie de passeio para os dois mais poderosos clubes da maior economia do continente. Na era Abel Ferreira, o Palmeiras passou a ser o time brasileiro líder em praticamente todas as estatísticas na mais nobre competição da América do Sul. Claro que tem muito mérito do trabalho feito pelo Verdão, mas a diferença financeira em relação à concorrência ajuda bastante a explicar esses números cavalares. A mesma coisa, em um grau um pouco menor, pode ser dita do Flamengo, que ainda colecionou uma ou outra eliminação surpreendente nos últimos anos e quase sucumbiu diante do esforçado e valoroso Estudiantes na última quinta-feira.
Quase todo mundo está esperando para ver quem terá a tal “camisa mais pesada” do futebol brasileiro na Libertadores ao final deste ano. Se a decisão em Lima for mesmo entre Palmeiras e Flamengo, teremos enfim o primeiro tetra do nosso país no torneio da Conmebol. Esse será coroado não só como Rei da América e postulante ao título da Copa Intercontinental em dezembro como também sentará no trono que já foi do Santos dos anos 60 aos anos 80 e do São Paulo dos anos 90 até os últimos anos. Alguém pode dizer que a camisa mais pesada da Libertadores ainda é a do Independiente com seus sete títulos em sete finais da competição, embora a última conquista tenha vindo no distante ano de 1984. O Peñarol, outra bandeira histórica da Libertadores, não ganha a taça desde 1987 (o futebol uruguaio não conquista a Libertadores desde 1988). Os tempos mudaram bastante, e as tais camisas pesadas estão encontrando nova realidade no continente. O Boca Juniors parou no hexa em 2007, são quase 20 anos de jejum, praticamente o mesmo tempo de espera dos são-paulinos pelo tetra continental. O humilde Estudiantes e o poderoso River Plate, que são tetra de verdade, caíram nas quartas de final deste ano diante justamente de Flamengo e Palmeiras, respectivamente. Se não for neste ano, os dois gigantes brasileiros serão tetracampões em pouco tempo, possivelmente penta, hexa e talvez hepta para liderar a galeria de troféus do continente.
O Palmeiras disputa todas as Libertadores desde 2016, tem a maior sequência nacional de participações no torneio, que também foi inchado e oferece muito mais vagas do que no passado. Nesse período glorioso alviverde, foram dois títulos, três quedas em semifinal, uma eliminação nas quartas, duas nas oitavas e um insucesso na fase de grupos. Neste ano, garantiu presença em sua quinta semifinal nos últimos seis anos. Isso é coisa de Real Madrid na Champions League. Já o Flamengo atua em todas as Libertadores desde 2017 e, de lá para cá, viu dois títulos, um vice, uma queda nas quartas, três nas oitavas e uma eliminação em fase de grupos. Se não tem o mesmo aproveitamento do Palmeiras, está empatado em troféus com o alviverde. E pode superá-lo neste ano no quesito que mais importa: número de títulos. Na tabela histórica atualizada da Libertadores, o Palmeiras já acumula 451 pontos, com 145 vitórias e 494 gols marcados. O Verdão fica só atrás de River Plate, Nacional-URU, Boca Juniors e Peñarol, clubes que jogaram o torneio muito mais vezes do que qualquer clube brasileiro. O Flamengo aparecia muito abaixo nesse ranking histórico, mas, com as campanhas dos últimos anos, o time já superou, por exemplo, o número de vitórias do São Paulo em Libertadores (106 a 105 para o rubro-negro). É questão de tempo para o time carioca chegar ao Top 10 dos maiores da história da Libertadores nessas estatísticas gerais e superar o Tricolor do Morumbi e também o Grêmio (outro tricampeão) em todas os números da competição. Não sabemos nem se São Paulo e Grêmio jogarão a Libertadores do ano que vem. Todo esse cenário não veio de uma hora para outra, foi trabalho sério e consistente de dois grandes clubes do país e administrações tenebrosas de outros tradicionais times brasileiros.
Com todas as polêmicas sobre número de títulos nacionais, passando por unificação torta de títulos e também pela questão de 1987, Palmeiras e Flamengo são mesmo os clubes com mais taças oficiais chanceladas pela CBF. Segundo pesquisas recentes, a torcida do Flamengo continua crescendo e reinando no país, e a do Palmeiras vem superando a do São Paulo na terceira colocação. Não tem mistério. O sucesso estrondoso da dupla rende frutos em todas as frentes. Quem ganhar a Libertadores deste ano já estará garantido na segunda edição do Mundial de Clubes em 2029. E aquele que perder pode muito bem ganhar alguma outra edição da Libertadores até 2028 ou então se classificar com base no ranking de resultados dos próximos anos no mais desejado torneio da Conmebol. Mais participações, mais títulos e mais dinheiro. As premiações só aumentam no futebol, e os ricos ficam cada vez mais ricos. Meritocracia, alguém vai dizer. O fato é que ficou mesmo inegável o discurso da espanholização no futebol brasileiro e, agora, sul-americano. Camisa pesada, nome e história não bastam. Que o digam os velhos dinossauros da América. A ordem é modernizar as instituições e fazer dinheiro. Dinheiro chama dinheiro, chama título, chama hegemonia. Vemos isso na Europa e em outros continentes. Chegou a vez de a América do Sul se curvar a Palmeiras e Flamengo. Foi tempo de Botafogo em 2024, é era de Verdão e Mengão na Libertadores. O tempo das camisas pesadas ficou para trás, o que conta agora é a grana!