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Lucas Guanaes e Luís Araújo
26 de set, 2025, 03:21
As últimas duas décadas do Brooklyn Nets foram cíclicas: sair dos cenários de terra arrasada, montar bons elencos com jovens e ‘renegados’ pelos outros times da NBA e, no meio do processo, apostar em figurões para ganhar o quanto antes, ainda que o futuro da franquia fosse sacrificado. Nenhuma das apostas funciona, o cenário de terra arrasada volta e, com o tempo, um elenco competitivo volta a aparecer. Estamos exatamente neste momento
Como foram os Nets na última temporada
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Campanha: 26 vitórias e 56 derrotas
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Classificação: 12° na Conferência Leste
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O que aconteceu: Sob o comando do estreante técnico Jordi Fernández, os Nets começaram a temporada apresentando um bom basquete. Até o fim de novembro, o aproveitamento girava em torno de 50%. Ao longo do ano, porém, Cam Thomas se machucou, Dennis Schroder e Dorian-Finney Smith foram trocados, e os Nets rapidamente começaram a cair na tabela. Ainda assim, alguns bons jogos impediram a franquia de ficar numa posição ainda pior. Por um lado, demonstraram certo nível de talento. Por outro, prejudicou a posição do time no Draft.
O elenco dos Nets para a temporada 2025/26
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Escolhas de Draft: Egor Demin (armador, 8ª escolha), Nolan Traoré (armador, 19ª escolha), Drake Powell (ala-armador, 22ª escolha), Ben Saraf (ala-armador, 26ª escolha) e Danny Wolf (pivô, 27ª escolha)
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Quem mais chegou: Kobe Bufkin (armador, Atlanta Hawks), Terance Mann (ala-armador, Atlanta Hawks), Haywood Highsmith (ala-pivô, Miami Heat), Michael Porter Jr. (ala-pivô, Denver Nuggets) e E.J. Liddell (pivô, Chicago Bulls)
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Quem foi embora: D’Angelo Russell (armador, Dallas Mavericks), Keon Johnson (ala-armador, sem time) Maxwell Lewis (ala, sem time), Tosan Evbuomwan (ala, New York Knicks), Cam Johnson (ala-pivô, Denver Nuggets), Trendon Watford (ala-pivô, Philadelphia 76ers)
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Provável time titular: Egor Demin, Terance Mann, Cam Thomas, Michael Porter Jr. e Nic Claxton
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Reservas: Nolan Traore, Koke Bufkin, Tyson Ettiene (armador), Ben Saraf, Drake Powell, Dariq Whitehead (alas-armadores), Ziaire Williams, Jalen Wilson (alas), Haywood Highsmith, Noah Clowney, Drew Timme (alas-pivôs), Day’Ron Sharpe, Danny Wolf e E.J. Liddell (pivôs)
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Técnico: Jordi Fernández
O clima para a temporada
Numa das grandes movimentações da offseason, os Nets receberam Michael Porter Jr. e uma pick de primeira rodada de 2032 em troca de Cameron Johnson. Além de acumular mais uma escolha que pode ser alta num futuro distante, os Nets adicionam aos vestiários a ‘experiência de campeão’ proporcionada por MPJ.
O que faz sentido para uma franquia que está em total experimentação e ainda nos estágios iniciais de reconstrução. Brooklyn foi o primeiro time da história a ter cinco escolhas de primeira rodada no Draft e busca encontrar algum futuro nestes jovens de posições semelhantes (exceto Danny Wolf), mas características muitas diferentes. A comissão precisará de paciência: Egor Demin, Nolan Traoré e Ben Saraf ainda têm 19 anos, e na Summer League demonstraram não estar no mesmo ritmo do jogo da NBA.
Mas a “descapitalização” dos bons talentos da última temporada não foi total: Cam Thomas, cestinha da equipe, era agente restrito e aceitou a qualifying offer para permanecer em Brooklyn por mais um ano. Além dele e de MPJ, os ‘veteranos’ Terance Mann e Haywood Highsmith chegaram para dar um pouco de estabilidade e experiência para este elenco super jovem. E claro, o explosivo pivô Nic Claxton, agora com 26 anos, segue como o principal nome da posição no elenco.
Mas também são nomes que podem gerar interesse de contenders ao longo da temporada, o que pode render novos ativos e abrir espaço, tanto na minutagem para os jovens, quanto na folha salarial para atrair algum talento de peso na próxima free agency.
Abre aspas
“Nós nunca ouvimos o que as notícias dizem, não vemos as odds (de apostas) em Las Vegas. Só entramos para competir. Sucesso, para nós, é como vamos encontrar e determinar quem estará no ‘próximo’ Nets.’ Quando olhamos para trás, na temporada, quem se desenvolveu, quem desenvolvemos e pensamos ‘Ok, essa pessoa pode ser um Net por um longo tempo,’ é isso que estamos tentando encontrar. Sabemos que estamos com muitos jogadores bem jovens, o desenvolvimento deles é nossa prioridade.”
A fala é de Sean Marks, general manager dos Nets, indicando o caminho ‘experimental’ da franquia em 2025-26. O treinador Jordi Fernández terá liberdade para testar todas as opções que o jovem elenco proporcionar, ainda que custe vitórias ao longo da temporada. No fim, mais vale encontrar os melhores encaixes e definir quais destes vários jovens serão utilizados nos anos futuros.
Uma esperança
A esperança e o medo andam lado a lado neste elenco dos Nets. Além dos cinco novatos, outros nomes ainda estão em suas primeiras temporadas na NBA, como Jalen Wilson, Noah Clowney e Dariq Whitehead. E mesmo caras como Zaire Williams e Day’Ron Sharpe, que irão para o quinto ano na liga, ainda carecem de experiência competitiva. Até o treinador Jordi Fernández está em início de carreira.
É possível que em algumas temporadas olhemos este caldeirão de juventude e identifiquemos a origem de grandes talentos na liga. No final das contas, a pressão não deve ser um problema no Barclays Center, permitindo tempo para o amadurecimento, tanto dos novatos, quanto dos segundo e terceiroanistas.
A divisão de minutos tende a ser um problema, e alguns jovens devem ficar pelo caminho. Mas se na outra ponta do funil estiverem bons titulares para os próximos anos, ainda em contratos baixos, os Nets terão cumprido sua função.
Um medo
Mesmo sem grandes astros, a gestão de elenco e minutagem dos Nets é uma das mais desafiadoras da NBA nesta temporada. São muitos nomes com potencial relativamente semelhante, acompanhados de ‘líderes’ disfuncionais:
Michael Porter Jr. colecionou entrevistas polêmicas e fora do tom nesta pré-temporada; Nic Claxton teve uma série de descontroles na segunda metade de 2024-25, resultando em uma inúmeras desqualificações e momentos bizarros; Cam Thomas, no último ano de contrato e recebendo um salário muito abaixo do que julga ser o justo, não está nem um pouco interessado em ajudar jovens, pois precisará mostrar para o resto da NBA que pode receber algumas dezenas de milhões de dólares a partir 2026.
Se internamente os Nets forem caóticos a ponto de se tornarem uma bomba-relógio, a reconstrução será atrasada em mais um ano e as movimentações para conseguir estes jovens terão sido em vão.
O cara
14ª escolha do Draft de 2018, Michael Porter Jr. rapidamente encaixou no esquema dos Nuggets como um bom two-way (eficiente nos dois lados da quadra) e um pontuador versátil e confiável para jogar ao lado de Jamal Murray e Nikola Jokic.
Mas as graves lesões também foram uma constante na carreira. Desde seu primeiro jogo, ainda no basquete universitário, sofreu com uma hérnia de disco, que o tirou das quadras por vários meses, prejudicando suas projeções no Draft. No ano de calouro, uma cirurgia nas costas o deixou fora de toda a temporada, fazendo com que sua estreia ocorresse apenas em 2019.
Em 2021-22, uma nova cirurgia nas costas (a terceira, não perca as contas) e apenas nove jogos na temporada. Já em 2024-25, uma lesão no ombro trucidou seu aproveitamento nos playoffs, caindo de 18.2 pontos na temporada regular (melhor marca da carreira), para apenas 9.1 pontos. Mesmo com minutagem semelhante, diminuiu as tentativas de arremessos de 13.6 para apenas 8.6, apresentando problemas na mecânica dos chutes.
Agora, pela primeira vez, será algo semelhante ao líder de uma equipe. Além de se mostrar saudável, MPJ conviverá com o peso de ser o melhor jogador do time, inclusive com funções mais relevantes na organização das jogadas.
Até então, porém, nunca tinha se mostrado como uma pessoa polêmica fora das quadras, mas se esforçou para reverter essa imagem nos últimos meses. O que não necessariamente é algo animador. Por outro lado, reeditará a parceria com o técnico Jordi Fernández, que já foi assistente em Denver.
Também vale a pena ficar de olho
As notícias ao longo da temporada davam conta que Cam Thomas esperava receber ao menos 30 milhões de dólares anuais no novo contrato. Mas os efeitos das novas regras salariais espantaram as grandes ofertas, e o ala de 23 anos, que era um agente restrito, precisou se contentar com uma qualifying offer de “apenas” 6 milhões de dólares.
Agora, no último ano de contrato antes de se tornar um agente livre irrestrito, terá que mostrar para a NBA que, além de saudável, pode ser o cara do ataque de qualquer franquia. O problema é que este estilo de jogador, arrojado ofensivamente, grande ameaça individual, mas sem grande impacto coletivo, na defesa, e que concentra muito o jogo, está em decadência na liga, vide Zach LaVine e Jordan Poole.
Ainda assim, é jovem e tem qualidade o suficiente para projetarmos alguma possibilidade de melhora na direção de se tornar um jogador mais completo.
Grau de apelo para o telespectador – de 1 a 5
1,5 (mínimo para baixo) – Sejamos sinceros, nenhum dos nomes dos Nets salta aos olhos. Mesmo numa Conferência Leste nivelada por baixo, Brooklyn tende a ser uma das piores equipes. Mas ter cinco novatos de primeira rodada pela primeira vez na história, além de um treinador promissor e um inédito MPJ líder, pode atrair alguns olhares de fãs mais engajados.
Palpite para a temporada 2025/26 dos Nets
No cenário mais otimista: dois ou três dos cinco novatos ou dos jogadores ainda nos primeiros anos de NBA dão mostras de que podem ser a base de uma equipe competitiva em temporadas futuras. O time passa a rondar a zona de classificação ao play-in e incomoda adversários mais ‘parrudos’, indicando que com tempo e reforços pontuais, os Nets podem voltar aos playoffs e por lá permanecer por vários anos.
No cenário mais pessimista: o alto número de jovens em busca de um lugar ao sol e a ausência de ‘pacificadores’ entre os veteranos implodem o time. A reconstrução fica estagnada e há até a possibilidade, já que existe alguma qualidade no elenco, que o time consiga algumas vitórias ‘indesejadas’ o suficiente para afastar chances maiores de conseguir um astro em drafts futuros.
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