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Mark Ogden26 de set, 2025, 02:00
O que acontece se você colocar Tom Brady, Snoop Dogg, Rob McElhenney e Ryan Reynolds em uma sala e, em seguida, Joel Glazer, Stan Kroenke e John W. Henry entrarem? Em menos de 12 meses, essa cena poderá se repetir em uma reunião da diretoria da Premier League.
O panorama do futebol inglês está mudando, e de uma forma mais radical do que você imagina. A casa de Manchester United, Arsenal, Liverpool e até mesmo de Sheffield United e Millwall se tornou o local mais cobiçado do mundo no setor imobiliário esportivo, e os proprietários americanos estão na vanguarda da corrida por esses “terrenos”.
Quando Malcolm Glazer concluiu a aquisição do Manchester United por US$ 1,06 bilhão (R$ 2,5 bilhões) em maio de 2005, o bilionário nova-iorquino se tornou o primeiro proprietário americano da Premier League. Vinte anos depois, 11 clubes do Campeonato Inglês são de propriedade majoritária de indivíduos, famílias ou grupos de private equity americanos.
Na Championship, a segunda divisão do futebol inglês, nove clubes são de propriedade majoritária de empresas ou indivíduos dos EUA, incluindo o Wrexham. Até mesmo o Gillingham, líder da tabela da League Two, a “Série D” da Inglaterra, é de propriedade americana.
Será que a influência americana poderá levar a principal liga nacional do esporte a adotar limites salariais, trocas de jogadores, drafts e até mesmo jogos da temporada regular disputados no exterior, ao estilo da NFL ou da NBA? Aqui estão as principais questões sobre a crescente influência da propriedade americana no futebol inglês.
Afinal, quantos donos de clubes da Premier League são americanos?
Existem 20 clubes na Premier League e apenas três — Brentford, Brighton e Tottenham — são totalmente controlados por indivíduos ou grupos ingleses.
Os quatro clubes mais bem-sucedidos da história do futebol inglês — Liverpool (Fenway Sports Group), Manchester United (família Glazer), Arsenal (Kroenke Sports & Entertainment) e Chelsea (Clearlake Capital/Todd Boehly) — são todos de propriedade majoritária de americanos.
Outras equipes com propriedade americana incluem Aston Villa (V Sports, de propriedade conjunta de Wes Edens), Bournemouth (Black Knight Football Club, liderado por Bill Foley), Burnley (Velocity Sports Limited, liderado por Alan Pace), Crystal Palace (Woody Johnson), Everton (The Friedkin Group), Fulham (Shahid Khan) e Leeds United (49ers Enterprises). Além disso, estrelas do esporte (J.J. Watt com o Burnley) e estrelas de Hollywood (Will Ferrell com o Leeds, Michael B Jordan com o Bournemouth) estão se envolvendo como investidores minoritários.
Até mesmo o Manchester City tem investimento americano: embora o sheik Mansour bin Zayed al Nahyan, de Abu Dhabi, seja o proprietário majoritário, a Silver Lake, um grupo de private equity, detém 18% das ações do clube. Além dos três clubes de propriedade inglesa, outros cinco — Newcastle (Arábia Saudita), Nottingham Forest (Grécia), Wolverhampton (China), West Ham (Reino Unido/República Tcheca) e Sunderland (França/Suíça/Uruguai) — não têm participação de proprietários americanos.
Também há muitos proprietários americanos na EFL, certo?
Você provavelmente se lembra astros de Hollywood Rob Mac e Ryan Reynolds no Wrexham, mas há muitos outros clubes com proprietários americanos na segunda divisão.
Snoop Dogg tornou-se coproprietário do Swansea em julho — o clube galês foi comprado pelos empresários americanos Brett Cravatt e Jason Cohen em novembro de 2024 —, enquanto a lenda da NFL Tom Brady faz parte do grupo de proprietários do Birmingham City, cujo principal acionista é Tom Wagner, da empresa financeira Knighthead Capital Management, sediada em Nova York.
Ipswich (Gamechanger, um fundo de pensão com sede no Arizona), Millwall (James Berylson, proprietário da Berylson Capital Partners), Norwich (Mark Attanasio, proprietário do Milwaukee Brewers), Portsmouth (Michael Eisner, ex-CEO da Disney), Sheffield United (COH Sports Group) e West Bromwich (Shilen e Kiran Patel) elevam para nove o número de clubes da Championship com propriedade majoritária americana.
Por que há tantos proprietários americanos e qual é o apelo para eles?
Sem nenhuma ordem de iportância específica, trata-se de glamour, emoção esportiva e ego. Mas, principalmente, trata-se de dinheiro.
“Do ponto de vista do investimento, o histórico é atraente e o Manchester United serve como um excelente exemplo”, disse à ESPN Chris Mann, chefe de estratégia esportiva e insights do Sportsology Group, que prestou consultoria em aquisições de clubes da Premier League.
“Os Glazers adquiriram o clube por cerca de US$ 1,06 bilhão em 2005 e, na época do investimento da Ineos em fevereiro de 2024, o valor total da empresa do United era superior a 4 bilhões de libras esterlinas (R$ 28,5 bilhões) — um aumento de 400% em 20 anos”.
“Também é significativo que, desde a crise financeira de 2008, a economia dos EUA se recuperou e cresceu a um ritmo muito mais rápido do que as economias europeias e, em particular, do Reino Unido. Isso criou um excedente de caixa entre essa classe de investidores que são ricos o suficiente para comprar participações em esportes europeus, mas podem estar fora do mercado dos EUA devido aos preços”.
Embora o rebaixamento ou o acesso aumentem a tensão envolvida com alguns desses grupos de proprietários — Burnley, Leeds United e Ipswich foram promovidos e rebaixados da Premier League desde que foram adquiridos por proprietários americanos — há uma vantagem evidente em escolher o futebol em vez dos esportes tradicionais americanos.
“Há um ponto de entrada muito mais baixo em termos de valores. A venda mais recente da NBA foi a do Boston Celtics, que foi vendido por US$ 6,1 bilhões R$ 32,5 bilhões) em março. Todd Boehly e a Clearlake compraram o Chelsea por US$ 3,36 bilhões (R$ 17,9 bilhões) em maio de 2022, então há um custo-benefício real a”.
A aquisição de terrenos também é importante. O Arsenal vendeu o Emirates Stadium ao grupo KSE de Kroenke por US$ 162,5 milhões (R$ 868 milhões) em 2022, entregando aos proprietários um imóvel de primeira linha em uma das cidades mais prestigiadas do mundo. Nos planos elaborados pelo Manchester United para construir um novo estádio em Old Trafford, há propostas para a construção de 17.000 casas no local existente quando uma nova arena for erguida nas proximidades. Com o preço médio das casas em Manchester listado em US$ 327.750 (R$ 1,7 milhões) em junho de 2025, uma simples equação matemática destaca o valor dos terrenos onde os estádios de futebol são construídos.
Existem outras oportunidades de negócios — todas relacionadas ao dinheiro — mas adquirir um time da Premier League oferece caminhos para a lucrativa indústria do entretenimento.
“Os investidores estão olhando para o futebol não como um investimento esportivo propriamente dito, mas como um investimento em entretenimento”, disse Mann. “Se você pensar no futebol como parte de um cenário de entretenimento mais amplo, os times dentro dele provaram ser mais resistentes à recessão do que outros negócios em diferentes setores”.
Não quero chamar os torcedores de ‘clientes’, mas se você os considerar como tal, eles são efetivamente um público cativo devido à sua própria lealdade, o que significa que você pode contar com eles para pagar para assistir ao seu time, não importa o que aconteça.
“O outro elemento disso é em termos de transmissão: os esportes ao vivo são uma das únicas coisas que ainda têm um apelo intergeracional e se destacam em um mercado de entretenimento incrivelmente diversificado e atomizado”.
Simon Jordan, ex-proprietário do Crystal Palace — o proprietário do New York Jets, Woody Johnson, comprou 43% das ações do clube em julho — concorda que as receitas futuras provenientes dos fluxos de entretenimento são um fator-chave que impulsiona o investimento em times da Premier League.
“Todd Boehly e sua turma não compraram o Chelsea por 2,5 bilhões de libras porque achavam que estavam comprando um cachorrinho”, disse Jordan à Talksport, estação de rádio britânica. “Eles compraram porque acham que vai valer a pena por uma série de razões diferentes, por ter acesso a uma base de clientes em todo o mundo. E, claro, os direitos de transmissão esportiva vão continuar crescendo”.
Como os proprietários americanos mudam seus clubes depois de assumi-los?
“Muitas reuniões públicas, conversas sobre ‘sinergias’ e a promessa de uma gestão ‘leve’”. Esse é o plano, de acordo com uma fonte que trabalhou nas transições de propriedade de dois clubes da Premier League adquiridos por grupos americanos. “Há também um grande incentivo para modernizar as instalações do estádio, a fim de torná-las mais atraentes para o mercado corporativo. Visto de fora, outros clubes comprados por americanos passaram pela mesma lista de verificação. Eles também gostam de administrar as coisas dos Estados Unidos, enquanto mantêm ‘olhos no terreno’ para implementar seus planos em nível local”.
A ESPN entrou em contato com vários clubes de propriedade dos EUA para falar diretamente com os proprietários sobre esta matéria, mas nenhum deles quis se pronunciar até o momento da publicação.
No entanto, isso não é incomum. Kroenke ganhou o apelido de “Silent Stan” (Stan Silencioso) antes mesmo de comprar o Arsenal, devido à raridade de suas declarações públicas, enquanto a família Glazer, apesar do copresidente do United, Joel Glazer, ter dito após a conclusão da aquisição há 20 anos que “dia após dia, temos que nos aproximar dos nossos torcedores”, não deu uma única entrevista desde que falou com a MUTV, o canal interno do clube, em 2005. Representantes de um clube de propriedade americana chegaram a dizer à mídia para não esperar comunicação regular com os proprietários.
O presidente do Leeds, Paraag Marathe, recusou um convite para falar sobre esta história, mas em uma entrevista à ESPN em 2021, logo após a 49ers Enterprises adquirir sua participação no clube, Marathe delineou a estratégia que esperava implementar em Elland Road.
“O Leeds de hoje me lembra o San Francisco 49ers de 15 anos atrás”, disse Marathe. “Ambos os times têm uma grande base de fãs e história. Os 49ers tiveram um grande sucesso nos anos 80 e 90, assim como o Leeds nos anos 70, e ambos estavam passando por algumas dificuldades dentro e fora do campo, e os 49ers jogavam, na época, no estádio mais antigo e não reformado da NFL. Construímos um novo estádio, que transformou completamente nossa franquia, e é a mesma coisa que queremos fazer aqui no Leeds”.
“Olho para os nossos amigos nos Estados Unidos e para o que eles fizeram, com o que John W. Henry implementou com o seu grupo [FSG] e o que eles fizeram com o Liverpool como outro bom exemplo de crescimento de uma franquia e desenvolvimento de um clube. Mas, no final das contas, ainda é preciso construir de forma adequada. Não se pode simplesmente apostar tudo e depois fracassar no ano seguinte”.
Quatro anos depois, o Leeds está de volta à Premier League após o rebaixamento em 2023 e, em abril, anunciou planos para modernizar e ampliar o Elland Road, seguindo um caminho já trilhado por clubes de propriedade dos EUA, como Liverpool, Bournemouth, Burnley e Fulham.
Os proprietários americanos se consideram inovadores populares e focados nos torcedores, mas o que os torcedores pensam?
Aqui, isso depende de para quem você perguntar e depende muito do sucesso ou fracasso de um time com proprietários americanos. É seguro afirmar que os torcedores do Liverpool, Birmingham e Wrexham terão uma visão diferente dos modelos de propriedade americana do que os do Manchester United, que protestaram contra os Glazers nos momentos bons e ruins.
Os torcedores do Wrexham adoram Mac e Reynolds e, juntos, eles se tornaram o primeiro clube a conquistar três acessos consecutivos, encontrando-se agora um degrau abaixo da Premier League.
Em Liverpool, os torcedores estão bastante satisfeitos com a FSG. Apesar das reclamações e da raiva ao longo dos anos sobre os preços dos ingressos e seu envolvimento como força motriz por trás dos planos fracassados de lançar uma Superliga Europeia em 2021, os proprietários sediados em Boston proporcionaram muitos momentos inesquecíveis. Além de dois títulos da Premier League em quatro temporadas, os primeiros títulos da liga do clube em 30 anos, e uma coroa da Champions League, a FSG gastou US$ 557,8 milhões (R$ 2,9 bilhões) neste verão para reconstruir a equipe, ao mesmo tempo em que manteve os queridos astros Mohamed Salah e Virgil van Dijk antes que eles se tornassem agentes livres.
Os Glazers nunca foram populares entre os torcedores do Manchester United devido à aquisição do clube em 2005, que sobrecarregou o clube, antes livre de dívidas, com US$ 887 milhões (R$ 4,7 bilhões) em empréstimos.
Após 20 anos de propriedade, os Glazers custaram ao United US$ 1,6 bilhão (R$ 8,5 bilhões) em pagamentos de juros, encargos de dívidas e pagamentos de dividendos, por isso continuam extremamente impopulares em Old Trafford.
“Vinte anos dos Glazers e sua montanha de dívidas é tempo demais. Já chega”, disse um porta-voz do grupo de torcedores do United, The 1958, à ESPN. “O futebol está se consumindo. O que está acontecendo no Manchester United é um aviso para todos os outros clubes. Para nós, é uma tentativa calculada de americanizar e franquear o esporte que amamos”.
“Avisamos sobre a americanização dos nossos clubes e do nosso esporte há três anos, e isso está se concretizando agora. [Os proprietários] querem o monopólio, controlar onde os jogos são disputados, eliminar o risco do nosso sistema de liga e cobrar o que quiserem. Se isso continuar, o esporte ficará vazio, um produto comercial sem alma. O futebol não é nada sem os torcedores”.
A chamada “americanização do futebol” tem sido uma questão desde o início da Premier League em 1992/93, quando cheerleaders no estilo da NFL e fogos de artifício saudaram a primeira transmissão do “Monday Night Football” — os jogos dos clubes ingleses raramente eram disputados às segundas-feiras antes do início da Premier League — em agosto de 1992.
Ao longo dos anos, a comercialização do esporte beneficiou muitos clubes, com os Glazers — também proprietários do Tampa Bay Buccaneers — usando seu conhecimento de marketing da NFL para quadruplicar a receita comercial anual do United, de 157 milhões de libras esterlinas por ano em 2005 para 662 milhões de libras esterlinas (R$ 4,7 bilhões) em 2025.
“Os Glazers foram revolucionários na forma como dividiram a marca comercial do United para aumentar a receita”, disse Mann. “Muitos clubes viram isso como uma boa prática e seguiram esse caminho. É assim que a propriedade americana influenciou mais a Premier League: é mais ‘observar e aprender’ do que receber instruções sentado à mesa da diretoria”.
Desde que adquiriram o Chelsea há três anos, a Clearlake e Boehly — Boehly também é coproprietário do Los Angeles Dodgers, da Major League Baseball — reforçaram a equipe de análise de dados do clube em um esforço para espelhar o uso dessa área no esporte americano e aumentar a taxa de sucesso do clube no recrutamento de jogadores. O clube também adotou o modelo esportivo americano de contratos longos com jogadores — Cole Palmer e Nicolas Jackson assinaram contratos de nove anos em 2024 — e essa iniciativa foi seguida pelo Manchester City em janeiro, quando Erling Haaland assinou um contrato de nove anos e meio no Etihad.
Mas há alguma hostilidade em relação a Boehly entre os torcedores do Chelsea por causa das mudanças que ele introduziu. Em março, o Chelsea Supporters’ Trust (CST) escreveu ao CEO da Premier League, Richard Masters, para expressar sua “consternação” e “preocupação” com o clube usar a empresa de revenda de ingressos Vivid Seats — da qual Boehly faz parte do conselho e é acionista — para revender ingressos a preços inflacionados. O CST acusou Boehly de “quebra de confiança” e, desde então, a Premier League escreveu ao coproprietário do Chelsea sobre o assunto.
Para Mac e Reynolds, no entanto, sua abordagem tem sido discreta no que diz respeito ao futebol. Seu objetivo tem sido deixar o futebol “para os especialistas”, enquanto eles desenvolvem a marca Wrexham por meio do documentário “Welcome to Wrexham”, que narra a ascensão do clube da 5ª divisão para a 2ª divisão em três anos.
“Estamos apoiados nos ombros de gigantes”, disse Mac à ITV Sport, emissora britânica. “Nós apenas observamos o que outros clubes fizeram para ter sucesso no passado e, em seguida, o que eles fizeram para não ter sucesso no passado e tentamos evitar isso tanto quanto possível”.
“E isso inclui ficar fora dos negócios envolvendo futebol. Nosso trabalho é contar a história, é promover o clube, mas, em última análise, deferir às pessoas que entendem de futebol”.
Então, qual é a influência dos proprietários americanos e eles poderiam mudar a Premier League?
De uma perspectiva puramente numérica, há 11 clubes de propriedade dos EUA na Premier League em 2025, e qualquer mudança nas regras exigiria que 14 dos 20 clubes da Premier League votassem a favor. Essa cláusula foi criada no início da Premier League, em 1992, para garantir que os clubes mais poderosos não pudessem forçar mudanças em detrimento dos clubes menores.
Dito isso, já vimos que os proprietários americanos nem sempre compartilham o mesmo ponto de vista quando se trata de votar em grupo. Em novembro passado, uma votação para aprovar mudanças nas Regras de Transações com Partes Associadas (APT) foi aprovada por uma maioria de 16 a 4, apesar do Manchester City e do Aston Villa terem escrito aos clubes rivais pedindo que votassem contra as mudanças. O Villa, co-propriedade do bilionário americano Wes Edens, votou ao lado do City, Newcastle e Nottingham Forest para bloquear a mudança nas regras. Todos os outros clubes com proprietários americanos apoiaram a mudança, tornando a atitude do Villa significativa.
Embora tenha havido alianças no passado envolvendo Liverpool, United e Arsenal — sendo os planos fracassados da Superliga a iniciativa mais controversa —, a ESPN apurou que seria errado acreditar que os proprietários americanos estão trabalhando dentro da Premier League para adotar regulamentos ao estilo americano, como tetos salariais e jogos da liga disputados no exterior.
“Os clubes de propriedade americana não marcham em uníssono”, disse à ESPN uma fonte familiarizada com as reuniões de proprietários da Premier League. “Não há receio de que os proprietários americanos estejam entrando e tentando americanizar a liga. Não é esse o sentido, principalmente porque, para administrar um clube de forma eficaz, eles precisam se envolver com a comunidade local e os torcedores locais nos termos deles”.
“Cada vez mais, grupos de proprietários americanos estão entrando e respeitando o que é a Premier League, o que é a tradição do futebol inglês, e então trabalhando dentro disso. Mas todos fazem isso de maneira diferente. Os Glazers têm sido criticados pela forma como se relacionaram com os torcedores do United ao longo dos anos, mas o Liverpool viu que havia lições a serem aprendidas e se diferenciou deles nesse sentido”.
Se há o receio de que a Premier League seja levada numa direção contrária aos desejos dos adeptos, há um precedente na Itália que pode dar-lhes confiança de que a herança e as qualidades únicas do futebol inglês permanecerão inalteradas.
“Houve uma preocupação na Itália quando a RedBird Capital comprou o Milan [em agosto de 2022]”, disse Mann. “Havia uma sensação de que uma massa crítica havia sido atingida porque seis ou sete clubes da Série A, incluindo Bologna, Roma e Fiorentina, passaram a ser de repente propriedade de grupos americanos. Talvez isso diga mais sobre a resistência cultural italiana à influência externa, mas isso não aconteceu realmente. Não há um bloco de proprietários americanos no Campeonato Italiano que estejam trabalhando juntos”. Bill Foley, o proprietário americano do Bournemouth, é um dos poderosos da Premier League que tornou pública sua insistência de que os jogos da temporada regular não devem ser levados para o exterior.
“As tradições aqui são tão fortes e importantes que realmente não deveríamos jogar partidas da Premier League nos Estados Unidos ou em outros países”, disse Foley à Sky Sports. “Precisamos jogá-las aqui, diante de nossos torcedores. Estou comprometido com isso”.
“Não sei quantas pessoas querem jogar partidas da Premier League nos Estados Unidos, mas eu não sou uma delas”.
Então, o que acontecerá se Snoop Dogg, Mac/Reynolds ou Tom Brady levarem seus clubes para a Premier League na próxima temporada?
Isso certamente aumentaria ainda mais o burburinho em torno da Premier League, e Swansea, Birmingham e Wrexham poderiam ser promovidos nesta temporada, mas seria necessário que três clubes não americanos fossem rebaixados da primeira divisão para abrir a possibilidade de 14 times da Premier League serem de propriedade dos Estados Unidos.
A controvérsia dos planos fracassados da Superliga destacou o quanto os torcedores ingleses são apaixonados por seus times de futebol, e qualquer movimento para alterar a estrutura do jogo quase certamente será resistido novamente. Isso significa que haverá grande hostilidade em relação ao fim da promoção e do rebaixamento, e a tentativa de 2008 de jogar partidas da Premier League no exterior não foi revisitada desde então, com o CEO Richard Masters dizendo no mês passado que a ideia “se dissipou”.
“Nosso objetivo na época, quando pensamos nisso, era ajudar a expandir a Premier League em todo o mundo”, disse Masters aos repórteres. “Mas conseguimos fazer isso por meios diferentes, por meio de parcerias brilhantes de transmissão, tecnologia digital, investimentos em outras áreas, e agora a Premier League é uma liga genuinamente global.
“Portanto, alcançamos esse objetivo por diferentes meios; essa necessidade se dissipou.”
Então, pelo menos por enquanto, não há planos de levar os jogos da Premier League para o exterior, adotar os modelos de teto salarial da NFL/NBA ou acabar com o rebaixamento.
A imprevisibilidade, a tradição e, talvez acima de tudo, a chance de ganhar muito dinheiro no futebol inglês é o que está impulsionando o interesse americano pelo esporte. Mas, à medida que a presença e a influência americanas crescem, a base de poder do futebol inglês continuará a se deslocar para o oeste, através do Atlântico.
*(Tradução: Vinicius Garcia)
**(Cotação usada: 25/05/2005)
***(Cotação usada: 25/09/2025)