As ações da Cosan (CSAN3) registravam forte desvalorização nesta segunda-feira (22), após a companhia anunciar uma capitalização até R$ 10 bilhões, em uma operação que busca otimizar a estrutura de capital e fortalecer a governança do grupo, mas que representará em forte diluição de acionistas.
Uma dúvida de investidores foi, no entanto, com relação a outra companhia ligada ao mesmo grupo: a Raízen (RAIZ4).
Fruto de uma joint venture com a Shell, a Raízen enfrenta fortes desafios financeiros, com analistas apontando necessidade de desalavancagem mesmo após reestruturação recente. E o receio veio daí: de que a Cosan pretenda usar parte do aporte de R$ 10 bilhões para melhorar as contas da Raízen.
Executivos da Cosan, no entanto, descartam essa possibilidade. A companhia afirmou que o equacionamento da Raízen segue em discussão com a Shell – o que também derrubava os papéis da joint venture.
Em teleconferência para explicar a transação, o diretor financeiro da Cosan, Rodrigo Araujo, destacou que a companhia segue buscando sócios para também reduzir o endividamento da Raízen.
Por volta de 12h42, Cosan recuava 22,53%, a R$ 5,80, enquanto Raízen PN perdia 10,08%, a R$ 1,16.
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Na mínima até o momento, Cosan marcou R$ 5,63, equivalente a uma perda de quase R$ 3,5 bilhões em valor de mercado em relação ao valor da sexta-feira.
O BTG Pactual Holding, cujos sócios incluem o bilionário Andre Esteves, vai investir R$ 4,5 bilhões, enquanto o fundo Perfin Infra aportará outros R$ 2 bilhões. O acordo também inclui R$ 750 milhões do family office do fundador da Cosan, Rubens Ometto. Segundo o comunicado, haverá ainda uma oferta subsequente de até R$ 2,75 bilhões.
Com isso, BTG, Perfin e Aguassanta passam a deter 55% do capital, firmando acordo de acionistas de 20 anos.
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Ambas as ofertas serão realizadas a R$ 5 por ação, valor inferior ao preço de fechamento em 19 de setembro, de R$ 7,50 por papel.
Acionistas diluídos
A XP Investimentos comenta que estrutura implica em uma diluição para os acionistas existentes, tanto controladores quanto minoritários. No entanto, acredita que os benefícios de resolver virtualmente as questões de estrutura de capital da holding podem se mostrar suficientemente para compensar a diluição da transação.
O Bradesco BBI, por sua vez, destacou três pontos qualitativos positivos sobre a oferta da Cosan, incluindo melhoria na estrutura de capital, entrada de acionistas de qualidade e maior clareza sobre sucessão.
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Oferta pode gerar dúvida
Por outro lado, o banco ressalta que o mecanismo jurídico usado na primeira oferta não é comum no Brasil e pode gerar questionamentos dos acionistas atuais, especialmente daqueles interessados em garantir direitos para aumentar suas participações pelo preço de R$ 5,00 por ação.
A alocação proporcional ao free float de 64% exigiria um aporte de R$ 6,4 bilhões, difícil de ser alcançado nas atuais condições de mercado. Além disso, manter a estrutura acionária atual, sem a entrada de novos parceiros de longo prazo, não resolveria a questão sucessória na holding, considerada pelo banco essencial para destravar aportes de capital nas subsidiárias.
Preço-alvo reduzido
No aspecto quantitativo, o BBI reduziu o preço-alvo de R$ 9 para R$ 8 e manteve a recomendação de compra. Segundo o banco, o preço-alvo foi calculado via Dividend Discount Model (DDM) no nível da holding. Embora a oferta dilua o capital em 55%, ela deve reduzir imediatamente as despesas financeiras em cerca de R$ 1,5 bilhão e abrir espaço para pagamento de mais dividendos pela holding.