A excessiva polarização política ameaça comprometer os avanços já conquistados pelo Brasil e travar reformas fundamentais para o crescimento econômico. “Se ficar uma coisa ‘hiperpolarizada’, ‘hiperpopulista’, ‘curtoprazista’, acho que a gente vai afundar”, afirmou o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
Economista e sócio sócio-fundador da Gávea Investimentos, ele destaca que há espaço para que o chamado centro político ganhe protagonismo e se torne o eixo de aprovação de medidas estruturais.
“Ninguém é bobo. Se for possível trazer esse centro e dar a ele responsabilidade, nós vamos ver o Congresso reagir e viabilizar várias reformas”
Entre as mudanças já aprovadas, Fraga destacou a trabalhista, a da Previdência, a tributária e a independência do Banco Central. Mesmo assim, ele alerta que o risco de retrocessos permanece alto diante da instabilidade política.
“Não existem reformas perfeitas, isso não existe em lugar nenhum, mas avançamos bastante. Agora, se ficar uma coisa ‘curtoprazista’, vamos perder”, disse.
As falas foram concedidas no podcast Outliers, produzido pelo InfoMoney e apresentado por Clara Sodré, analista de fundos da XP, e por Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP.
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Brasil nunca fez austeridade, diz ex-presidente do BC
Fraga também contestou a narrativa de que o país teria adotado políticas de austeridade. “Que austeridade? O gasto público subiu de 25% para 34% do PIB. Nunca houve austeridade aqui. E agora estamos pagando esse juro”, disse.
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Segundo ele, bastaria sinalizar uma trajetória de melhora para que o mercado reagisse de forma positiva.
“O mercado funciona no gerúndio. Se as coisas estiverem melhorando, os preços dos ativos sobem, o investimento aumenta, e o Brasil pode se engatar no trem da produtividade global”, destacou.
Apesar dos 45 anos de crescimento baixo do país, Fraga mantém alguma dose de otimismo.
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“O Brasil tem muito espaço para melhorar, mas a nossa governança maior vai ter que se organizar. As decisões de longo prazo precisam ser tomadas, e aí acredito que o resultado vem espetacularmente bem”
Juros, inflação e risco fiscal
Na avaliação do ex-presidente do BC, a queda consistente da taxa de juros no Brasil só ocorrerá com equilíbrio fiscal.
“A economia tende a se desacelerar em função dessas taxas e dessa incerteza toda. Mas a queda dos juros não virá sem o fiscal. O que temos hoje não dura para sempre”
Ele chamou atenção ainda para o risco de “dominância fiscal”, quando a política monetária perde eficácia diante do descontrole das contas públicas.
“Chega uma hora que a ferramenta do Banco Central perde a eficácia, porque você quer fugir da moeda brasileira. Estamos entre o abismo e, vamos dizer, até mesmo um paraíso”, avaliou.
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Fraga reforçou que não há registro de países que tenham conciliado sucesso econômico com política monetária restritiva e fiscal expansionista.
“Não tem porque esperar que dê certo aqui no Brasil.”