Alexandre Muller, sócio e gestor responsável pelos fundos de crédito privado da JGP, afirma que muitas gestoras brasileiras ainda operam de forma técnica demais, sem enxergar a companhia como um negócio completo. Para ele, é fundamental que as gestoras adaptem cultura e estratégias à nova realidade do mercado, considerando marca, comunicação e produto para o cliente.
Muller destacou que grande parte dos profissionais do setor se concentra em análises financeiras tradicionais e não aplica seus conhecimentos para gerar valor além dos números. Ele defende uma abordagem mais ampla, em que a gestora seja tratada como um negócio integrado, capaz de responder de forma estratégica às mudanças do mercado.
O gestor explicou ainda que a aceleração do fluxo de informações e o avanço da tecnologia transformaram a dinâmica do setor financeiro. “Se alguém dispara um míssil em Israel, isso aparece no seu celular em tempo real. O gap informacional que existia no passado está sendo fechado pela tecnologia”, disse, ressaltando que algoritmos já processam decisões em milésimos de segundo, exigindo novas formas de gerar retornos consistentes, como no conceito de Alfa Alternativa.
Em entrevista ao programa Stock Pickers, comandado por Lucas Collazo, Muller também compartilhou sua experiência pessoal ao assumir papéis de liderança. Ele contou que precisou aprender sobre gestão de pessoas e cultura corporativa para liderar a adaptação do negócio, com o apoio de consultores e da psicóloga Ana Petri.
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O modelo de negócio da JGP
Muller detalhou a visão de longo prazo da JGP Crédito, inspirada em modelos internacionais. “Olhei para o que a Apollo estava fazendo e pensamos: é isso que queremos ser. Uma casa de private debt brasileira, com capacidade de construir soluções de capital e uma plataforma de originação verticalizada”, explicou.
Segundo ele, a JGP busca criar valor tanto para investidores quanto para empresários.
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“Nós atuamos como intermediários, canalizando poupança para investimento produtivo. Essa é a pequena contribuição que tentamos deixar para o país e para a economia”
O gestor ressaltou também a importância da educação financeira e da comunicação. “Clientes mais informados tendem a gerar até 100% mais receita. O ser humano teme aquilo que não conhece. Quando você passa a conhecer, perde o medo, volta a ser mais racional e consegue investir melhor e por mais tempo”, disse.
Um exemplo disso é o índice Idex, criado pela JGP para ajudar investidores a entender o ciclo do crédito privado no Brasil.
“O Idex deu uma ferramenta de comunicação, um goodwill [ativo intangível] de franquia e autoridade impressionante para a JGP”
Comunicação e inovação
Para Muller, a comunicação é base tanto para a criação de produtos quanto para a gestão interna da empresa. “Tudo o que fazemos aqui é conexão: primeiro com a equipe, para criar soluções coletivas, e depois com os investidores, para mostrar como geramos retornos ajustados ao risco e ajudamos empresários com soluções sob medida”, afirmou.
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O gestor destacou o papel da paixão na construção de relacionamento com empresários.
“Mesmo com toda a evolução tecnológica, a percepção de paixão pelo que fazemos gera uma conexão muito forte com os empresários que atendemos”
Ele também comentou como a JGP incentiva aprendizado e protagonismo interno: “Temos um grupo multidisciplinar de inteligência artificial, e a última reunião foi praticamente conduzida por estagiários, que eram os maiores especialistas no assunto”, afirmou, ressaltando que a comunicação e a troca de conhecimento fortalecem a criação de produtos e soluções.
Cenário atual do crédito privado
Ao comentar sobre o mercado de crédito, Muller apontou que a compressão de spreads (prêmios de risco) é um desafio. “O nível dos spreads está extremamente baixo. Muitos investidores compram ativos pela isenção de imposto e não pelo crédito em si, o que comprime os spreads, especialmente nos ativos de alta qualidade”, explicou.
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Ele lembrou das turbulências de março de 2020, quando o spread do Idex atingiu picos, exigindo até intervenções macroeconômicas. “Hoje, o mercado está mais desenvolvido, com mais players, compromissadas e tesourarias de bancos. É muito improvável que tenhamos o mesmo swing técnico de 2020”, disse.
Muller também comentou a natureza cíclica do mercado.
“Quando os spreads negativos se normalizam, há uma remarcação dos ativos. Isso pode gerar experiências de investimento desconfortáveis para o investidor, que reage rapidamente, provocando efeitos em cascata no mercado”
Para o gestor, a chave para o sucesso da JGP é manter a conexão entre pessoas, tecnologia e educação financeira. “Sem comunicação e compreensão do propósito, não conseguimos entregar valor consistentemente. É assim que buscamos gerar resultados para investidores e empresários”, concluiu.