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Bruno Andrade
8 de set, 2025, 02:00
Em junho de 2023, o telefone de Luís Castro tocou no Brasil. Era da Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo, o próprio, estava do outro lado da linha.
“Quero você no Al Nassr“, disparou, entre outras palavras.
Mesmo em alta no Botafogo, então líder do Campeonato Brasileiro, o técnico português não pensou duas vezes e aceitou o convite multimilionário.
Levar Castro para o futebol saudita, na verdade, não foi o primeiro grande movimento de Ronaldo no “comando” do clube de Riade. Já havia feito outros antes. Continua a fazer até hoje. Mais e maiores, aliás.
Quando decidiu interromper a segunda passagem pelo Manchester United, poucos dias antes da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, CR7 deixou também de trabalhar com o influente agente Jorge Mendes, dono da Gestifute, e abraçou de vez a parceria com o velho amigo Ricardo Regufe.
Braço direito de Ronaldo há duas décadas, o ex-funcionário da Nike e da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) prontamente assumiu o agenciamento da carreira do atacante, coincidentemente (ou não) no mesmo período em que surgiu o forte interesse do Al Nassr.
Regufe foi o principal responsável por negociar a bombástica transferência do ídolo português para a Arábia Saudita, logo no começo de 2023, algo que poucos acreditavam. Caminho aberto para entrar (com tudo) no dia a dia do clube.
Mesmo sem um cargo “oficial”, o empresário português passou a funcionar como uma espécie de diretor de futebol. Intermediou, por exemplo, duas contratações de peso: o zagueiro espanhol Aymeric Laporte, ex-Manchester City, e meia-atacante luso-brasileiro Otávio, ex-Porto.
Regufe não gostava de ser identificado pela imprensa nacional e internacional como “dirigente” do Al Nassr. Recusava a associação. Entretanto, participava frequentemente das decisões do clube e também desembarcava no aeroporto juntamente com reforços do time.
Segundo apurou a ESPN, os altos valores pagos por Laporte e Otávio, cerca de 80 milhões de euros (R$ 507 milhões nas cifras atuais), ditaram a conturbada saída de Ricardo Regufe do Al Nassr. Não era uma figura consensual e, entre outros motivos, sofreu ainda um processo disciplinar antes de ser afastado.
Na (silenciosa) queda de braço interna, com ponto final em janeiro de 2025, Cristiano Ronaldo resolveu ficar ao lado do Al Nassr, com quem já começava a discutir a renovação de contrato (por mais duas temporadas).
Sem Regufe por perto, também por questões pessoais, as conversas para estender o acordo do craque português com os sauditas foram então conduzidas por outro agente português: Simão Coutinho, da Proeleven.
Ronaldo e Simão se conheceram na Inglaterra, entre 2021 e 2022. Na altura, o empresário era o representante do lateral-direito Diogo Dalot, do United. Foi assim que criaram o vínculo que veio a ser reforçado na Arábia Saudita.
Depois de meses de impasse e negociações, Cristiano Ronaldo acabou por renovar até junho de 2027. Fim de uma novela, que, além de um salário astronômico, garantiu aproximadamente 5% das ações do clube saudita ao goleador.
O anúncio da renovação do camisa 7 aconteceu no dia 26 de junho de 2025. No dia 27 de julho, Simão Coutinho foi oficializado como novo diretor esportivo do Al Nassr.
Uma semana antes, no entanto, outro grande companheiro de longa data de Ronaldo já havia recebido concretamente um função no clube: José Semedo foi nomeado CEO.
Amigo de CR7 desde os tempos das categorias de base do Sporting, Semedo foi jogador, com passagens por Charlton Athletic, Sheffield Wednesday e Vitória de Setúbal, e parou de jogar em janeiro de 2023.
Assim que pendurou as chuteiras, o ex-volante passou a trabalhar no ciclo fechado de Ronaldo. Fazia de tudo e um pouco, até ser integrado à estrutura do Al Nassr.
Já com Simão Coutinho e José Semedo na diretoria, o clube saudita foi atrás de mais um português, ainda antes do arranque de 2025/26. Desta vez, um nome bastante familiar no Brasil: Jorge Jesus.
Incomodado com os resultados do time na temporada passada (2024/25), Ronaldo praticamente decretou a demissão do italiano Stefano Pioli, sucessor do também demitido Luís Castro, e escolheu JJ para liderar do projeto.
“Não podia rejeitar o convite do Al Nassr, que partiu do novo CEO, do [José] Semedo [diretor técnico] e, como é óbvio, do Ronaldo”, revelou Jesus, em agosto, logo na apresentação.
A contratação de Jorge Jesus é o derradeiro golpe de CR7 para, enfim, ser campeão na Arábia Saudita. Falhou as duas primeiras edições da Liga Saudita (Al Hilal campeão em 2023/24, Al Ittihad em 2024/25) e também da Liga dos Campeões da Ásia (Al Ain campeão em 2023/24, Al Ahly em 2024/25).
Para atacar de vez os próximos objetivos coletivos, Ronaldo não definiu apenas o treinador. Também “escolheu” com quem jogar no ataque. Curiosamente (ou não), mais um compatriota: João Félix, ex-Atlético de Madrid, Barcelona, Milan e Chelsea.
Félix esteve muito perto de voltar ao Benfica, com quem tinha um acordo verbal, mas acabou desviado pelo Al Nassr. Os sauditas tiveram pressa para vencer e concorrência e pagaram quase 50 milhões de euros (R$ 317 milhões) pelo atacante.
Houve urgência para o negócio ser concretizado, inclusive. Para isso, Cristiano Ronaldo disponibilizou o próprio avião para buscar o novo reforço na Inglaterra e levá-lo às pressas para a Áustria, onde a equipe saudita cumpria a reta final da pré-temporada.
De Luís Castro a Jorge Jesus e João Félix. De Ricardo Regufe a Simão Coutinho e José Semedo. Quem vai ser o próximo? Muito provavelmente, o filho mais velho Cristiano Ronaldo Jr..
Aos 15 anos, Cristianinho é a grande figura do time sub-17 do Al Nassr. Fez oito gols em 17 jogos na temporada anterior. O (também) atacante caminha para em breve começar a treinar com os profissionais e, aos poucos, seguir as pegadas do pai.
O título inédito da Copa do Mundo de 2026 e jogar uma partida oficial com o próprio filho são hoje os dois últimos grandes sonhos do consagradíssimo Cristiano Ronaldo no futebol. Tudo isso, claro, estimulado pelo império montado na Arábia Saudita.