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Diego Garcia, de São Paulo (SP), e Naty Andrade, de Belo Horizonte (MG)
26 de ago, 2025, 10:52
O Atlético-MG demitiu três profissionais de seu departamento de fisioterapia após acusação de assédio sexual, moral e humilhações no ambiente de trabalho.
O caso ocorreu no fim de 2023 e gerou processos judiciais contra o clube e entre as partes envolvidas. Em um deles, o Galo fez um acordo com a vítima e pagou cerca de R$ 10 mil. Em outro, um dos envolvidos cobra R$ 223 mil de indenização pela demissão. As ações correm em sigilo.
Segundo documentos aos quais a ESPN teve acesso, a acusação de assédio ocorreu em agosto de 2023. Na ocasião, uma residente da fisioterapia foi surpreendida com a edição de um vídeo com teor sexual.
Ela acusa o assédio sexual após um fisioterapeuta do departamento de base lhe mostrar um vídeo pornográfico editado com áudio retirado de um vídeo profissional postado em seu Instagram, sem consentimento. Ignorando os pedidos da vítima, o vídeo foi espalhado para outros funcionários do setor e chegou até a atletas menores de idade, o que causou constrangimento e gerou difamação.
A vítima solicitou que o vídeo em questão lhe fosse enviado, e os acusados seguiam afirmando tratar-se de uma brincadeira. O assunto foi inicialmente levado aos responsáveis pelo setor de fisioterapia, e ela afirma, a partir desse momento, ter sofrido perseguição dos colegas.
Um dos acusados passou a tentar coagir a vítima, com medo das consequências do vídeo. Ele passou a ligar insistentemente, aparecer no outro trabalho da vítima e em outros locais onde ela estava, alegando estar deprimido, ter família e solicitando que ela mudasse a versão dos fatos.
Além de informar ao responsável pelo setor, ela fez um relato formal nos canais de denúncia do clube alvinegro, anexando como provas o vídeo, registro de ligações, mensagens e áudios.
A partir do registro das acusações, a vítima diz que passou a ser diminuída no ambiente de trabalho dentro do Galo, sofrendo humilhações e isolamento, inclusive sendo alvo de piadas ácidas na frente de crianças e adolescentes que treinavam nas categorias de base do clube.
“Resolvi fazer essa denúncia pois sofri dois tipos de abuso extremamente graves e gostaria que não acontecesse com mais ninguém, uma vez que fui vítima e ficará marcado na minha vida, inclusive com a necessidade de terapia para superar os fatos ocorridos. Demorei de me expressar nesse canal por medo de represálias”, escreveu, na ocasião.
O caso chegou à diretoria por meio dessa denúncia. Um diretor ouviu todos os envolvidos e, em e-mail interno enviado a outros diretores, apontou a gravidade do ocorrido.
“Diante do exposto, entendo que houve um ato grave dentro da instituição feito por profissionais do clube. Primeiro em utilizarem o espaço de trabalho para uma brincadeira de extremo mau gosto, segundo em não assumirem pessoalmente o erro cometido, terceiro omitindo informações para se protegerem e protegerem a terceiros”, apontou o diretor, no e-mail.
Depois de investigação interna, o Galo decidiu demitir por justa causa os fisioterapeutas Gustavo Braga, Marcelo Saliba e Silvanio Signoretti Jr..
Após a demissão, Marcelo Saliba foi à Justiça cobrando R$ 223 mil de indenização. Ele trabalhava há 12 anos no clube e era o chefe do departamento na ocasião.
Segundo ele alega no processo, foi mandado embora por justa causa sob a alegação de que “houve omissão no dever de adotar medidas contra empregados subordinados envolvidos na divulgação de arquivos de conteúdo sexual envolvendo uma colega de trabalho”.
Porém, Saliba alega que nunca cometeu qualquer irregularidade, sendo essa punição infundada, pois não tinha conhecimento dessa conduta até ser informado por um superior e, após determinação da chefia direta, passou a apurar o ocorrido, tendo tomado as providências que julgou necessárias.
Ele alega que fez a apuração, que informou ao subordinado que o vídeo não era apropriado e prontamente levou ao conhecimento da direção, recomendando que a diretoria tomasse as providências cabíveis para aplicar a punição devida ao referido colaborador. Apontou que deu todo apoio à vítima e anexou mensagens da mesma lhe apoiando após ser demitido.
Em sentença de primeira instância, a Justiça de Minas Gerais entendeu que a demissão por justa causa foi correta, pois o diretor não tomou providências adequadas ou medidas condizentes com a gravidade da situação, revelando conivência com tão triste caso de desrespeito no ambiente laboral. Ainda destacou que a opinião da vítima sobre a injustiça da demissão é irrelevante nesse caso.
“O fato de um empregado fazer um vídeo montado de conteúdo sexual, utilizando áudio de uma colega, é grave o suficiente para ensejar uma dispensa por justa causa”, disse o juiz.
A vítima também fez denúncias junto ao Crefito (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) e na Sonafe (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física) e aguarda o andamento dos processos.
Outro lado
Em contato com a ESPN, o Atlético-MG afirmou que “trata-se de questão interna, resolvida em âmbito interno com toda seriedade e efetividade, especialmente visando à proteção da vítima”.
A defesa de Saliba informou que respeita o sigilo processual e que quanto ao episódio envolvendo a vítima, “Marcelo manifesta sua solidariedade e esclarece que também foi vítima, pois não tinha conhecimento dos fatos quando estes ocorreram. Tão logo tomou ciência posteriormente, comunicou a direção do clube e prestou todo o apoio possível. Apesar disso, foi injustamente dispensado por justa causa”.
A defesa também reitera que “no processo trabalhista movido contra o clube, foi anexado áudio enviado pela própria vítima, no qual ela reconhece que o Sr. Marcelo não teve qualquer envolvimento e que considera a demissão injusta”. Silvanio Signoretti Jr. não foi encontrado para comentar o assunto.
Procurado, Gustavo Braga diz que a versão não condiz com a realidade e que a eventual apuração corre em segredo de Justiça. O espaço segue aberto para o posicionamentos dos envolvidos no caso.
Próximos jogos do Atlético-MG:
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Cruzeiro (C) – 27/08, 19h30 (de Brasília) – Copa do Brasil
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Vitória (F) – 31/08, 18h30 (de Brasília) – Brasileirão
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Cruzeiro (F) – 11/09, 19h30 (de Brasília) – Copa do Brasil