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ESPN.com.br
26 de jul, 2025, 06:33
Medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2019, a triatleta Luisa Baptista se emocionou ao relembrar, durante participação no programa Bola da Vez, que vai ao ar no Disney+ neste sábado (26), a partir das 18h (de Brasília), os impactos do grave acidente que sofreu em dezembro de 2023. Atropelada enquanto fazia um treino de bicicleta na região de Santa Eudóxia, distrito de São Carlos, no interior de São Paulo, a atleta passou por uma verdadeira batalha pela vida: sofreu 28 fraturas, ficou dois meses em coma e passou 167 dias internada.
“Eu até brinco que eu não sofri nada no momento do acidente, porque eu não lembro, mas a minha família recebia as piores notícias, segurava uma bronca muito grande. A importância que todos eles tiveram, todo mundo se mobilizou para buscar a minha melhora”, iniciou, contando que sua mãe dela, que mora em Araras, deixou o trabalho e se mudou para o hospital para acompanhar integralmente a recuperação da filha. Já o pai e o irmão viajavam semanalmente à capital paulista para visitá-la.
Durante a internação, o quarto da triatleta ficou tomado por fotos e presentes enviados por amigos e fãs de todo o Brasil, algo que, segundo ela, foi fundamental para sua recuperação.
“Algumas tias passavam o dia comigo no hospital, apoiavam a minha mãe, tentavam me estimular. E cada estímulo fez toda a diferença para eu me recuperar. Minha mãe percebia que quando eu escutava áudios de amigos, conhecidos, meus parâmetros melhoravam. Isso no coma. Eu saí do coma porque tive mais de 70 áudios recebidos. Muita gente querida do meu lado, mesmo sem estar do meu lado.”
Um dos momentos mais marcantes aconteceu em 31 de dezembro de 2023, oito dias após o acidente: “Eu abri o olho no dia 31 de dezembro, oito dias depois do acidente. Mas o abrir o olho não é sair do coma ainda. Meus pais ficaram doidos, escreveram para o Vitor, ele foi correndo no hospital, chegou, me deu oi. Eu abri de novo o olho e fui acompanhando ele com o olho, foi o momento que todo mundo começou a chorar.”
Luisa ainda relatou o momento em que, já mais consciente, reencontrou pessoas próximas. “O primeiro momento que eu lembro é quando eu saí do coma mesmo, quando o Gustavo Meliscki (fisioterapeuta) e a Fernanda Zanini, treinadora do Sesi, foram visitar. Parecia que fazia anos que eu não via eles. O enfermeiro disse: ela está muito ansiosa, eu vou dar um remédio para ela dormir. E eu fiquei muito brava, queria matar as saudades.”
Após meses de recuperação intensa, Luisa deu a volta por cima e voltou a competir na Corrida Time Brasil, em 8 de junho de 2025, no Rio de Janeiro.
Além da luta física, a triatleta também enfrenta uma batalha judicial. O homem que a atropelou foi denunciado por tentativa de homicídio, e o caso deve ir a júri popular.
“O campo jurídico é algo que tem gerado bastante estresse. A gente sabe que a Justiça no Brasil é muito morosa, mas acredito que vai se resolver. Realmente, o juiz considerou que foi uma tentativa de homicídio, ele vai responder por isso. O advogado dele recorreu, o TJ-SP negou, então, ele vai para júri popular, ainda não tem data, mas ele vai. Até mexe comigo emocionalmente, mas se eu não fizer isso, ninguém vai fazer. Eu virei referência jurídica, outras pessoas olham para o meu caso para também obter justiça. Tiveram outros advogados que pediram o número do meu caso para usar em outros casos de pessoas que faleceram sendo atropeladas. A gente que esse problema existe no Brasil, meu caso vai ser referência, então, eu luto para que isso tenha justiça e bem severa. Tem que ser teimosa de novo. Eu não tenho sentimento de raiva dele, já tive, principalmente no hospital, quando eu estava presa e ele seguindo a vida. Tive meus momentos de revolta, até cheguei a vomitar.”
Apesar das dificuldades, a atleta vê um novo propósito para sua história. “Fiz uma ligação com o meu pai, ele me disse: não pensa o porquê isso aconteceu com você, pensa para que. Hoje, você inspira muita gente, tira lições muito valiosas, tenho certeza que a nossa família está muito mais unida”, encerrou.