Jorginho cobra pênalti com muita categoria, diminui contra o Bayern e torcida do Flamengo ‘explode’; VEJA reações (2:03)
Meio-campista fez o segundo gol do Flamengo no duelo contra o Bayern de Munique no Mundial de Clubes (2:03)
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André Kfouri, colunista do ESPN.com.br
29 de jun, 2025, 18:29
A média de posse de bola do Bayern de Munique na última edição do Campeonato Alemão roçou os 70%. Quando se fala em identidade de jogo, o tema é a maneira como um time de futebol escolhe atuar, de forma a enfatizar suas virtudes e se aproximar do objetivo final. Não significa, por óbvio, que o time não saiba jogar com outras ferramentas. Respeitadas as distâncias e características de elenco, o Flamengo também é uma equipe que opta por ser superior a seus adversários por intermédio da manutenção e elaboração da posse. O encontro de duas equipes que pretendem atuar com conceitos semelhantes sugere um problema gravíssimo para aquela que for subjugada no embate de ideias, pois o que resultará é um conjunto irreconhecível.
O primeiro gol do Bayern contra o Flamengo, desvio de Pulgar contra a rede de Rossi logo aos 6 minutos, enfatizou a curiosidade inicial sobre a dinâmica do jogo. Como reagiria o poderoso time alemão, em vantagem tão cedo, em relação à sua forma de jogar? No futebol sul-americano, geralmente, é frequente o recuo de equipes dominantes no aspecto técnico quando se adiantam no placar. Atraem o adversário e usam contra ele o próprio desejo de igualar o marcador. O Bayern seguiu atuando como antes do gol, pressionando a saída de bola do Flamengo com o duplo objetivo de desarticular e criar chances de perigo. Quando Upamecano tomou a bola de De Arrascaeta no frontal da área, Harry Kane foi premiado com um desvio em Leo Ortiz no chute que entrou no canto baixo direito do gol. Nove minutos, 2 x 0.
Em defesa do Flamengo, os dois diretos na ponta do queixo não foram suficientes para o nocaute técnico. O time brasileiro se ergueu e foi jogar. Luiz Araújo fez Manuel Neuer trabalhar após um chute forte, mas na direção de seu corpo. Na marca da meia hora, tal qual um jogo de basquete, cada time conseguia levar o confronto ao campo de defesa adversário e ali se estabelecer. O gol de Gérson não foi produto de uma pressão que o Bayern não suportou, mas de uma jogada bem construída em que a bola se apresentou dentro da área para a finalização violenta, de primeira, que passou por cima da cabeça do goleiro alemão. A ideia de que o Flamengo tinha se recomposto, no entanto, foi um flerte enganoso. O chute de média distância de Goretzka serviu para reforçar quem era o time que impunha sua vontade.
As dificuldades, evidentes, ficaram mais sérias por obra de um primeiro tempo em que o Flamengo foi generoso com o oponente errado. Se o resultado parcial parecia suficientemente problemático, qualquer chance de injetar emoção no jogo dependia de uma atuação impecável e, quem sabe, um pouco de sorte. O pênalti de Olise, mão na bola no minuto 52, foi o sopro que o Flamengo pedia. Jorginho deslocou Neuer para o lado errado, gerando uma situação que a torcida rubro-negra provavelmente aprovaria de antemão: cerca de meia-hora, mais os acréscimos, para fazer um gol e conduzir a decisão da vaga nas quartas de final para a prorrogação.
Como as recaídas costumam provocar arrependimentos, um novo erro seria decisivo. Especialmente diante de um atacante prolífico como Kane, que não precisa de muitas oportunidades, ou de muito espaço, para causar dano. Outro desarme, desta vez num bote de Konrad Laimer em Luiz Araújo, deu ao goleador inglês um presente irrecusável: 4 x 2. A autópsia produzirá sensações conflitantes – porque o Flamengo teve seus momentos – e um questionamento: não fossem tantos lapsos, o jogo poderia ter tomado outro caminho? Talvez, mas o futebol não permite que se analise um resultado ignorando que existem dois times em campo. Neste domingo, venceu quem é melhor, como já se sabia.