Um dos circuitos mais procurados do mundo, a edição deste ano da Maratona do Rio está cercada de polêmicas — e de queixas. Nas redes sociais, participantes da corrida de rua mais famosa da cidade elencam uma série de problemas que já começaram com a falta do desconto obrigatório para a inscrição dos idosos, passaram por filas gigantescas para a retirada dos kits e culminaram com a falta de medalhas para quem já completou o primeiro circuito, o de cinco quilômetros, na tarde desta quinta-feira (19).
Mais de 60 mil corredores fizeram a inscrição (um recorde) para a 23ª edição da Maratona do Rio. O evento se divide em quatro provas, a de cinco quilômetros, na quinta-feira; de dez, na sexta; a meia maratona, no sábado, e a maratona de 42 km, no domingo. Mas todos precisavam pegar os seus kits, na quarta-feira ou na própria quinta. Os participantes marcaram hora, mas…
As filas estavam gigantescas — da Marina da Glória ao Museu de Arte Moderna, e os corredores chegaram a gastar duas horas para receber os seus kits.

Conteúdo dos kits também foi alvo de reclamações
Depois de encarar a fila, e pegar suas sacolinhas, muitos participantes disseram estar decepcionados com a pobreza do kit. Houve quem protestasse nas redes contra o clima “tudo por dinheiro” da organização.
“Estou indignado e tenho certeza de que várias e várias pessoas estão revoltadas como eu. Fiz a inscrição e comprei o kit por 550 reais. E o que eu recebi foi isso aqui: o número de peito; as duas camisas, porque vou correr nos dois dias; papel; e mais nada”, protestou, em vídeo postado nas redes sociais, o influenciador digital Ni do Badoque, famoso por compartilhar com os seguidores a preparação para a corrida. “Quanto mais o tempo passa, essas corridas ficam mais caras e os kits ficam cada vez mais pobres. Governo do estado, prefeitura do Rio e dez empresas patrocinam essa maratona. O que não falta é patrocínio”.
Plataforma de aposta entre os patrocinadores
A pobreza do kit não foi a única crítica dirigida aos patrocinadores da maratona. Entre as empresas que ajudaram a pôr o evento na rua está a Bet Nacional, plataforma de apostas online. Tio Mayco, criador do Canal Corredores e uma celebridade entre os participantes de corridas de rua, foi um dos que protestaram contra a inclusão de uma bet no grupo. Na camisa, ele escreveu #corridasembets
“Jogo destrói lares. Corrida salva vidas e por consequência, famílias! Não dá. match!”, postou no canal, que tem quase 170 mil seguidores.

Trajeto da maratona passa três vezes pela Marina da Glória
Outro alvo da ira dos corredores é o próprio circuito da maratona. Criada em 1979, ela começava na Praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes e terminava no Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Flamengo. Mas, em 2019, quando a Avenida Niemeyer ficou nove meses fechada por causa de um deslizamento, o trajeto mudou e passou a incluir o Centro do Rio.
Desde então, a largada acontece na Marina da Glória, vai até o Museu do Amanhã, volta à Marina e segue para o Leblon. De lá, volta mais uma vez para o encerramento na Marina da Glória.
“Passa três vezes pela Marina da Glória. É bizarro. Todas as maratonas, no mundo, são um estirão: partem de um ponto e terminam 42 quilômetros depois. Não ficam dando voltas em torno do mesmo lugar”, protestou um dos corredores da prova.
Outras questões de organização também ficaram devendo nas primeiras provas. Na de sexta-feira, por exemplo, não houve renovação da água nos pontos de hidratação. Em alguns deles, os corredores encontravam as tinas vazias.
Mas, o pior estava por vir. Ao terminar a prova, o corredor recebe a medalha, um lanche e a hidratação. Certo? Só que não.
Não havia medalhas para todos. Uma longa fila se formou, mas houve quem saísse de mãos abanando. Alguns participantes ganharam a medalha de conclusão da prova de dez quilômetros (que só seria realizada no dia seguinte). Houve também quem ficasse sem a prova da conquista — que, prometeram os organizadores, será enviada pelos Correios no prazo de… um mês! A personal trainer e maratonista Anna Drummond registrou, em vídeo publicado nas redes sociais, o tamanho da fila para pegar as medalhas ao fim da prova de cinco quilômetros da Maratona do Rio
Quem conseguiu a sua medalha partiu para buscar o lanche. E onde era a distribuição? Bem, os corredores tinham que numa espécie de bosque, passar por todas as lojinhas que ficam na marina, caminhar o equivalente a um quilômetro para… chegar no ponto onde vai receber a comida e um isotônico.
Agora imagina se a pessoa vai correr 42 quilômetros, e depois ainda tem que andar mais um para conseguir se hidratar?
O que diz a organização
Sobre o circuito passar três vezes pela Marina, os organizadores dizem que desde a interdição da Avenida Niemeyer, a prova parte desse local. E que o trajeto passou por algumas mudanças, mas não muitas. A assessoria da Maratona do Rio dizem que muitos corredores, inclusive, preferem o novo circuito, por ser uma prova plana e que a largada ser no mesmo lugar da chegada facilita a logística.
Sobre as filas para a retirada do kit, explicou que divulgou uma nota.
“A organização da Maratona do Rio reforça a importância de que todos os corredores respeitem o horário e dia de retirada de kit previamente agendado no momento da inscrição. A medida visa garantir uma experiência organizada para todos, evitar filas e não prejudicar outros atletas que estão com o agendamento marcado”.
Por fim, também divulgou nota sobre a falta de medalhas.
“A Maratona do Rio lamenta profundamente que alguns participantes da prova de 5 km não tenham recebido sua medalha ao final da corrida. Produzimos medalhas em quantidade suficiente, com margem de segurança, mas identificamos a presença de pessoas inscritas em outras distâncias e fraudes com números de peito falsos, o que comprometeu a entrega aos corredores legítimos.
Esse tipo de atitude é inaceitável e fere o espírito esportivo que guia o nosso evento.
Pedimos desculpas aos atletas prejudicados. Todos os inscritos oficialmente na prova de 5 km que não receberam sua medalha poderão solicitar o envio por meio do e-mail contato@maratonadorio.com.br em até 30 dias. Reforçaremos o controle de acesso às largadas e verificação dos números de peito para evitar que isso volte a acontecer.
Contamos com o apoio da comunidade para manter o respeito e a integridade da corrida”.